domingo, 25 de outubro de 2009

DACILITO: O último adeus

O saudoso Dacilito no sítio histórico-arqueológico das ruínas do casarão do Barão de Aymorés (Casarão dos Escravos) na localidade de Serra de Baixo, zona rural de Nova Venécia, tendo ao fundo a Pedra do Elefante. Flagrante dos bastidores de entrevista dada por Dacilito a repórter da Star TV, Gabriella Coppo, sobre sua participação no longa metragem do diretor Paulo Thiago, SAGARANA: O DUELO, que teve uma de suas seqüências gravadas neste local em 1973. Foto: Rogério Frigerio Piva, 16/04/2009.

Infelizmente, conhecemos muito pouco o Sr. DACÍLIO JÚNIOR PESTANA SANTOS (1945-2009), chamado por todos, carinhosamente, de DACILITO. Nosso primeiro e único contato foi apenas em uma tarde, na qual travamos intensa conversa. Em meio as filmagens de uma entrevista para a Star TV, pude conhecer melhor aquele homem, sobre o qual, já ouvira muitas histórias, e perceber que estava diante de um grande veneciano como poucos que ainda temos hoje em dia.
Filho de tradicional família veneciana, Dacilito, orgulhava-se muito de seu saudoso pai, Sr. Dacílio Duarte Santos. Seu pai foi um dos homens que liderou a emancipação política do distrito de Nova Venécia no ano de 1953, quando era vereador, pelo distrito, na câmara municipal de São Mateus. Como Dacilito fazia questão de contar, naquele tempo, o seu pai saiu em lombo de cavalo pelos arrastões de madeira (caminhos) que levavam ao interior para colher, de casa em casa, as assinaturas do abaixo-assinado que endossava o processo de emancipação de Nova Venécia.
Creio que um dos fatos mais marcantes relacionado ao Dacilito seja o seu envolvimento com a produção do longa metragem SAGARANA: O DUELO do cineastra Paulo Thiago. Gravado em 1973, teve sua primeira seqüência rodada nas ruínas do casarão do Barão de Aymorés (Casarão dos Escravos), na localidade de Serra de Baixo, zona rural de Nova Venécia.
Segundo Dacilito, os tiros ouvidos na seqüência foram feitos por ele, visto que o protagonista, o ator Joel Barcelos, não possuía intimidade com as armas. Estas, aliás, eram do acervo de Dacilito e foram utilizadas na produção da película que se tornou um clássico do cinema nacional. Aliás, a coleção de armas de Dacilito era famosa e merecia ser preservada de maneira permanente em um museu na cidade em que ele nasceu e amava. Segundo se noticiou, estas, estão em segurança, sob guarda do exército em Vila Velha, a espera de alguma iniciativa que as traga de volta para nossa cidade.
Inclusive, ainda sobre o filme SAGARANA, contava Dacilito que o "calhambeque" utilizado no filme, era de Flayne Bastos e teria sido reformado exclusivamente para este propósito.
Mais detalhes sobre o filme:
E foi com imensa surpresa, ou melhor, espanto, que recebemos a notícia da morte de nosso amigo Dacilito e, a ele e a sua jovem filha, dedicamos estas linhas que, se não foram escritas antes, foi por ainda sentirmos o engasgo na garganta do que poderia ter sido uma longa e duradoura amizade.

O cinegrafista, a repórter da Star TV, Gabriella Coppo, e Dacilito. Flagrante dos bastidores de entrevista dada por Dacilito a repórter da Star TV sobre sua participação no longa metragem do diretor Paulo Thiago, SAGARANA: O DUELO, que teve uma de suas seqüências gravadas na Serra de Baixo, zona rural de Nova Venécia em 1973. Foto: Rogério Frigerio Piva, 16/04/2009.
Detalhes sobre o acidente que, na manhã do sábado, dia 26/09/2009, tirou a vida de Dacilito e sua jovem filha:
http://anoticianv.com.br//index.php?option=com_content&task=view&id=266&Itemid=41

Epitáfio para um amigo......

Sentinela
Milton Nascimento
Composição: Milton Nascimento / Fernando Brant


Morte vela sentinela sou do corpo desse meu irmão que já se vai
Revejo nessa hora tudo que ocorreu, memória não morrerá
Vul.......to negro em meu rumo vem
Mostrar a sua dor plantada nesse chão
Seu rosto brilha em reza, brilha em faca e flor
Histórias vem me contar
Longe, longe, ouço essa voz
Que o tempo não vai levar
Precisa gritar sua força ê irmão, sobreviver
A morte inda não vai chegar, se a gente na hora de unir
Os caminhos num só, não fugir e nem se desviar
Precisa amar sua amiga, ê irmão e relembrar
Que o mundo só vai se curvar
Quando o amor que em seu corpo já nasceu
Liberdade buscar,
Na mulher que você encontrar
Morte vela sentinela sou
Do corpo desse meu irmão que já se foi
Revejo nessa hora tudo que aprendi, memória não morrerá
Longe, longe, ouço essa voz
Que o tempo não vai levar

sábado, 10 de outubro de 2009

08 de Outubro: Mangueira da Rua Salvador Cardoso completa 94 anos

Plantado no dia 08 de Outubro de 1915, após as 09:00 horas da manhã, em frente a residência e comércio do Sr. Salvador Cardoso, na então vila de Nova Venécia, para homenagear o nascimento de seu filho Romeu Cardoso, após 94 anos, o pé de manga côco permanece belo e frondoso, porém, sofre com a negligência da população e da administração municipal.


Detalhe da “mangueira” da Rua Salvador Cardoso com o “posto” de coleta de lixo bem ao lado de seu tronco quase centenário, tendo ao fundo a secular residência de Salvador Cardoso. A foto é de fevereiro de 2009, porém a imagem permaneceu a mesma até o último domingo (04/10/2009) quando estivemos no local e constatamos que infelizmente nada mudou. Foto: Rogério Frigerio Piva, 19/02/2009.


Por Rogério Frigerio Piva


Seria uma data para ser comemorada, mas sequer foi lembrada pela administração municipal de Nova Venécia. A árvore “Mangueira” da Rua Salvador Cardoso, no centro da cidade de Nova Venécia, se aproxima dos cem anos e praticamente viu a cidade de Nova Venécia nascer, pois, quando foi plantada, ainda não havia sequer o traçado das ruas do centro da cidade, que foi oficializado somente 20 anos depois, em 1935.

A tradição oral das antigas famílias venecianas: Cardoso e Toscano, registram que o plantio da árvore naquele local está relacionado ao nascimento do filho de Salvador Cardoso, chamado Romeu Cardoso [leia transcrição do termo de nascimento de Romeu Cardoso no anexo, ao final desta postagem], em 08 de Outubro de 1915, às 09:00 horas da manhã, na residência de Salvador, esta, milagrosamente ainda existente em frente ao belo pé de manga.
Vista da Rua Salvador Cardoso, no centro da cidade de Nova Venécia, quando ainda se chamava Rua João Pessoa, em 1957, somente no ano seguinte ela foi rebatizada com o nome atual. A quase centenária mangueira ao centro do logradouro, que neste tempo, ainda não possuía pavimentação, mas ostentava todo seu casario. É a rua mais antiga de Nova Venécia, onde ainda existe a casa mais antiga do centro da cidade que pertenceu àquele que hoje dá nome à mesma. Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, vol. XXII, IBGE, 1959.


Em 15 de Julho de 1988, há 21 anos atrás, um Decreto Municipal de nº 1.302 assinado pelo ex-prefeito Adelson Antônio Salvador, declarou a mangueira “imune de corte” sacramentando assim o seu tombamento a nível municipal. Portanto, Nova Venécia deveria se orgulhar de, em pleno século XXI, possuir, no centro de uma rua, em pleno centro da cidade, uma árvore quase centenária. Inclusive, desconhecemos, pelo menos no nosso estado, outro município que possua uma árvore tombada - protegida - nessas condições.

Apesar de tudo que já foi dito, esse patrimônio natural de Nova Venécia sofre com a negligência da população e da administração municipal. Desde o ano passado, já havíamos alertado, aqui mesmo em nosso blog, para o fato da árvore estar sendo utilizada como posto de coleta de lixo na Rua Salvador Cardoso, fato comum em muitas ruas venecianas, pois a população insiste em colocar fora do horário de coleta, os seus detritos, que muitas vezes acabam por imundiçar as vias venecianas. No caso da mangueira há até uma “oficialização” da administração municipal que, desde a gestão anterior mantém um latão de lixo em frente à mesma.

Mas o problema não pára somente no lixo. Não existe no local, sequer uma placa de sinalização identificando que a árvore é protegida de corte por legislação municipal e informando a sua importância cultural para a História de Nova Venécia. O que deveria ser uma referência “turística” sequer é citado no site oficial da prefeitura. É como se ela não existisse.

Em outra ocasião, já sugerimos, aqui em nosso blog, que deveria ser feita uma remodelação no canteiro que está no entorno da mangueira para valorizar a beleza cênica da rua em conjunto com o casario do início do século XX. Queremos acreditar que, infelizmente, ninguém da administração leu nosso apelo, feito ainda no ano passado [veja os links no final da postagem].

A “mangueira” fica próxima a outro patrimônio de Nova Venécia, a Igreja Matriz de São Marcos. São patrimônios, natural e cultural, que devem ser pensados em conjunto no que diz respeito ao paisagismo. Ambos são símbolos da identidade do povo veneciano e pontos turísticos de nossa cidade. Foto: Rogério Frigerio Piva, 19/02/2009.

Povos antigos, como o celta, acreditavam que uma árvore é, com suas raízes profundas na terra e seus galhos erguendo-se para o céu, uma ligação entre o céu e a terra. Um símbolo incontestável da vida. E não precisamos ir longe, aqui mesmo, o povo botocudo, que habitou por séculos estas terras, dava tanta importância às árvores que acreditava que um “inferno” seria um lugar sem árvores onde o sol queimaria constantemente suas faces. A própria mangueira, segundo a já citada tradição oral, teria servido de local de repouso para os últimos grupos indígenas que existiram em nossa região, quando passavam pela nascente povoação.

Também chamamos atenção para o fato de que, apesar de não ser nativa do Brasil, a manga é abundante em nossa região, em especial no nosso município, podendo ser destacada como uma fruta típica de Nova Venécia.

Acreditamos que deve ser feito um trabalho em conjunto de manutenção, valorização-conscientização e divulgação envolvendo as secretarias municipais de Obras, dos Transportes e Urbanismo; a novíssima Secretaria de Meio Ambiente; bem como as secretarias de Cultura e Turismo e a de Educação.

Numa época em que a preservação ambiental está em destaque rogamos à administração municipal e aos cidadãos venecianos que valorizem e acolham com carinho a NOSSA mangueira um símbolo de vida e um verdadeiro MONUMENTO à memória dos índios que foram literalmente “engolidos” pelo processo de colonização que deu origem ao nosso município. E que venham os cem anos!!!


Anexo

TERMO DE NASCIMENTO de Romeu Cardozo
Transcrito do Livro Nº 03-A de Nascimentos sob nº 1.259 às folhas 122 do Cartório de Registro Civil e Tabelionato da Sede do Município de Nova Venécia (ES) por Rogério Frigerio Piva em 08/09/2009.


[folha 122] Numº 1259 Aos nove dias do mez de Outubro do an- / no de mil novecentos e quinze, neste / segundo districto do Juizo Districtal / do Municipio de São Matheus Estado / Federado do Espírito Santo, compareceu / em meu cartório Salvador Cardozo / e em presença das testemunhas abai- / xo nomeadas e assignadas decla- / rou: Que no dia oito do corrente / mez no lugar denominado – Nova - / Venezia – e casa de sua residencia / ás nove horas nasceu uma crian- / ça do sexo mascolino a qual deu-se / o nome de Romeu Cardozo, filho / legitimo dêlle declarante e D. Felin- / tha Cardozo, naturaes deste Muni- / cipio e residentes neste districto.
Avós paternos José Antonio Cardozo e / D. Liocadia de Almeida Cardozo e ma- / ternos, Ignacio Maciel Toscano e D. Ro- / mana Toscano. Do que para constar / lavrei este termo em que comigo as- / signa o declarante e as testemunhas / Eleosippo Rodrigues da Cunha e / Manoel Antonio da Silva, este lavra- / dor e aquelle negociante residentes / neste districto. Eu Ernesto Ayres Fa- / ria escrivão interino do Juizo Distri- / ctal o escrevi.


[assinaturas] Ernesto Ayres Faria
Salvador Cardozo

Manoel Antonio da Silva.



Para saber mais veja também:

* A Mangueira da Rua Salvador Cardoso , postagem de 25/08/2008

* Decreto Municipal Nº 1.302 de 15/07/1988. Declara imune de corte a "Mangueira" localizada no centro da Rua Salvador Cardoso , postagem de 21/02/2009.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Nova Venécia: Terra de diversidade cultural

Vista da Pedra do Elefante a partir do encontro da Praça São Marcos com a Rua Santa Cruz no Centro da cidade de Nova Venécia. Foto: Rogério Piva, 23/04/2009.

Por Izabel Maria da P. Piva*



Andando pelas ruas da cidade, observamos as pessoas. Notamos que possuem uma beleza singular. Seus olhos claros contrastam com a pele morena, ou, por vezes, os cabelos claros descobrem um olhar negro. Pudera! Nova Venécia se fez como terra de muitos povos.

Alguns aqui já estavam senhores deste chão, desta natureza que os protegia e alimentava. Depois vieram outros senhores da sociedade, com seus títulos de nobreza, para fazer produzir sobre a nova terra o café. Representante desta nobreza é o major Antônio Rodrigues da Cunha, agraciado com o título de Barão de Aymorés. Construiu sua fazenda na região onde existem os contrafortes da lendária “Serra dos Aymorés”. Sua casa-grande, conhecida popularmente como “Casarão dos Escravos”, foi palco dessa mistura de povos indígenas, africanos e europeus.

Os africanos trazidos à força para o trabalho escravo, não só construíram a riqueza dos nobres, como deixaram arraigadas na terra, seus costumes e suas histórias. Com o processo de abolição, a mão-de-obra imigrante se fez presente, demonstrando a coragem que possui quem deixa para trás sua terra, mesmo que em busca de novas expectativas, novos sonhos. Também participaram desta saga, nordestinos, mineiros e outros que compõem a nação que chamamos de Brasil.

Aos pés da pedra, hoje denominada, do Elefante, essa gente, de diferentes culturas, iniciou a construção de um povo. A pluralidade deste povo se faz presente em sua comida, que é uma mistura de cores e sabores. Além da polenta, da taiadella, da minestra e do pão caseiro, encontramos a carne de porco frita e acebolada, perfumando o entorno de nossas casas. Caminhamos um pouco mais e sentimos o cheiro do alho queimado, preparado para refogar a couve, influência dos mineiros. Entramos nas padarias e encontramos os biscoitos de polvilho, aqui chamados de “maluco”. Não podemos esquecer do cafezinho, dos biscoitos caseiros, do queijo mineiro, dos doces da roça, em especial, o de mamão verde.

Na época da Semana Santa é uma festa! O amendoim torrado espalha seu aroma, temperando as panelas de canjica, que não podem faltar. E tem a torta de palmito (ou repolho), influência portuguesa agregada à região. Quem resiste a uma terra com tantos sabores diferentes?!

Continuando nosso passeio nos deparamos com as varandas cheias de plantas e flores, as hortas nos quintais, as árvores dando sombra à tardezinha. Para quem vem de fora é um deleite observar a delicadeza desses quintais. Observa-se um tapete de retalhos em uma dessas varandas, fruto do artesanato local. Na sala da casa, almofadas em forma de coração. Na cozinha, panos de prato, marcados com tanta precisão. As mãos incansáveis de algumas mulheres da região, muitas vezes do interior do município, despertam em nós, um tempo de delicadeza. Ao passar em outras varandas, redes e cadeiras de madeira e palha, estas, feitas pelos Merlin, artesanato secular trazido da Itália por esta família e, que nos fazem lembrar das tardes em companhia de nossos avós. Pode haver sensação melhor?!
Passear mais um pouco pelo centro da cidade, observar o casario antigo ainda existente, ir à Matriz, de arquitetura tão aconchegante, visitar praças, deleitar-se com o rio Cricaré e suas águas mansas.

A Escadaria "Jamilli Daher Rocha", desde 1957, faz a ligação entre a Rua Eurico Salles e a Avenida Vitória no Centro de Nova Venécia. Diz-se que seu estilo foi inspirado na Escadaria Maria Ortiz em Vitória. É obra da gestão do ex-prefeito Zenor Pedroza Rocha (1955-1958) quando chamava-se simplesmente Escadaria da Travessa Itapemirim. Em 2003, na segunda gestão do ex-prefeito Adelson Antônio Salvador, foi restaurada e rebatizada com o nome da saudosa dona Jamilli, esposa do Sr. Zenor. Foto: Rogério Frigerio Piva, 23/04/2009.
Á tardezinha, na margem do rio, um ingazeiro serve de repouso para garças brancas. O pôr-do-sol, nas montanhas, traz aos nossos olhos, luzes coloridas, como a anunciar a noite estrelada e enluarada do céu “veneciano”. Visitamos ainda a Casa de Pedra do Perletti, com seu ar misterioso, o Centro Cultural Casarão, à beira da Cachoeira Grande, no coração da cidade, e a frondosa mangueira da Rua Salvador Cardoso, árvore esta, que vem testemunhando todo desenrolar da História desta cidade, rica em pequenos deleites que nos fazem sonhar.

Como partes dos costumes da região, encontramos as festas populares, mistura de danças e folguedos, raízes de nossa cultura. Procissões, cantorias e missas compõem a festa da capela de Santo Antônio do Córrego da Serra, que ainda tem os caldos, os doces, as roletas de frango assado, as quadrilhas e os namoros (afinal, é Santo Antônio!). Despertam saudades também as festividades do padroeiro São Marcos.

Seu leão, que impõe tanto respeito, e está sob a forma de escultura de bronze, na fachada da Matriz, foi disputado com a colônia de Nova Veneza (SC), nos anos 1920. Nesta época o governo da Itália teria presenteado a cidade catarinense com tal regalo. No entanto, a tripulação do navio que trouxe o presente, ao aportar em Vitória, escala para os portos do sul, revelou que esse seria dado à “Nuova Venezia, America dell’Sud”. Pronto, a confusão estava armada! Aqui também tínhamos uma “Nuova Venezia”, ao oeste da velha cidade de São Mateus, para a qual, o leão foi enviado. Dizem que, ao saber do desvio do seu presente, os catarinenses pensaram até em se armar, caso fosse necessário, para vir buscar o seu leão de bronze. Mas era tarde, esse fora tomado nos braços pela nossa população. A questão somente foi resolvida quando a Itália enviou outro leão, que até hoje também guarda a fachada da Matriz de São Marcos, na cidade de Nova Veneza, em Santa Catarina.
Escultura em alto relevo de broze representando o "leão alado de São Marcos" existente na fachada da Igreja Matriz de São Marcos. Em 1925, antes mesmo da construção da primeira igreja de São Marcos, esta escultura italiana foi recebida com festa na insipiente Vila de Nova Venécia. Foto: Rogério Frigerio Piva, 23/04/2009.

Escutamos música ao longe, além das influências baianas e cariocas, nos deparamos com nossas raízes sertanejas. Mas temos também música composta em nosso município, cheirando a terra molhada pela chuva, depois que, nas orações, pedimos a Deus o fim da estiagem. Basta buscar para ouvir o som da Lira Matheus Toscano, do Coral Italiano Augusto Zaché, do Grupo Engenho Novo ou da Banda Última Hora (UH) e outras expressões musicais que aqui tiveram e devem ter vez.

Presenciamos ainda, a folia-de-reis e suas cantorias, que precisam ser resgatadas e divulgadas. É muito bom ver as janelas e portas se abrindo para a chegada dos cantadores do Jesus-menino. Suas músicas, seu colorido, seu ritmo, retratam a religiosidade de uma cultura composta de grande influência nordestina. Os autos religiosos, contando o nascimento, vida e paixão de Cristo fazem parte desse cenário cultural, como representação cênica maior e mais tradicional. Encenados por atores amadores, não podem faltar na Sexta-feira Santa.

É assim, da mistura de todos os povos, da união da concertina, da sanfona e do triângulo, dessa cultura ítalo-nordestina, com aspectos de africanidade, indigenidade, recebendo ainda influência mineira, pomerana e tantas mais, que se fez Nova Venécia. Não se pode deixar morrer estas tradições. Não podemos nos esquecer de quem fomos, dos que vieram antes de nós e abriram caminhos para que pudéssemos ir além. Precisamos resgatar o orgulho de ser veneciano!

Devemos cuidar de nossa cidade e admirá-la. Conhecer e preservar nossa memória e nossos costumes nos faz únicos em um mundo de cultura massificante. Quando sabemos quem somos, nos fortalecemos em nossa identidade. E assim, construímos cidadania.


*Izabel Maria da P. Piva é historiadora graduada e mestra em História Social das Relações Políticas pela Universidade Federal do Espírito Santo onde produziu a dissertação "SOB O ESTIGMA DA POBREZA: A Ação da Irmandade da Misericórdia no Atendimento à Pobreza em Vitória - Espírito Santo (1850-1889)", defendida em 2005. Vem atuando no magistério, seja na educação infantil, ensino fundamental e médio, há mais de 15 anos. É professora na Escola Estadual de Ensino Médio “Dom Daniel Comboni”, em Nova Venécia. É colaboradora do Projeto Pip-Nuk.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Conversa sobre “lendas venecianas” na EMEF Dr. Adalton Santos

"Conversando" sobre "Lendas Venecianas" com alunos da EMEF Dr. Adalton Santos. Foto: Mônica Rodor, 20/08/2009.

No dia 20/08/2009, quinta-feira, após convite da professora de Artes, Mônica Rodor, nos reunimos por volta das 08h30min da manhã, no auditório da Escola Municipal de Ensino Fundamental “Dr. Adalton Santos”, com cerca de cinco turmas de alunos do 6º ao 9º ano do turno matutino.

O tema da palestra, ou melhor, “conversa” foram as “lendas venecianas”. Foram aproximadamente 40 minutos. Primeiramente, apresenta-mos o blog “LENDAS VENECIANAS”, do qual somos colaboradores, e que foi criado pelo professor Rodrígo Frigerio Piva, em maio de 2007. O prof. Rodrígo Piva leciona língua espanhola na EEEM Dom Daniel Comboni.

O blog "Lendas Venecianas" do prof. Rodrígo Piva, está no ar desde maio de 2007, e já recebeu milhares de acessos. Foto com Montagem: Rodrígo Piva, 2009.


Na seqüência citamos as histórias de assombrações relacionadas ao hoje extinto “casarão dos escravos”, falamos também sobre as lendas do “saci pererê” muito conhecidas dos antigos venecianos e, por fim, da famosa lenda veneciana da “mulher que virou serpente”. Quem quiser saber mais sobre essas e outras lendas é só acessar o blog: http://www.lendasvenecianas.blogspot.com/ .



O auditório da EMEF Dr. Adalton Santos ficou lotado de alunos que ouviram sobre as "lendas venecianas". Foto: EMEF Dr. Adalton Santos, 20/08/2009.


O dia 22 de agosto é comemorado em todo Brasil como o “dia do folclore”. Atualmente todo mês de agosto vem se tornando um período de referência para abordar o folclore brasileiro e regional. E o Projeto Pip-Nuk aceitando o convite da EMEF Dr. Adalton Santos, apresentou aos jovens alunos um pouco das lendas regionais que enriquecem o patrimônio cultural imaterial de Nova Venécia. Afinal, divulgar nossas lendas é uma maneira de mantê-las vivas, impedindo que elas sejam esquecidas e desapareçam.



"Conversando" sobre "Lendas Venecianas" com alunos da EMEF Dr. Adalton Santos. Foto: EMEF Dr. Adalton Santos, 20/08/2009.


Mais uma vez agradecemos a toda equipe da EMEF “Dr. Adalton Santos”, que sempre nos acolhe com muito carinho, pela oportunidade de falar sobre nossa terra aos jovens.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Mestre de Folia de Reis de Nova Venécia é premiado na Edição 2009 do Prêmio “MESTRE ARMOJO DO FOLCLORE CAPIXABA”


Mestre Anízio, aqui ostentando traje típico, foi reconhecido pelo seu trabalho de dedicação com o Grupo de Folia de Reis “Sois Reis”, recebendo o Prêmio de 10 mil reais, constante do Edital 13 da Secretaria de Estado da Cultura – Secult, intitulado “Mestre Armojo do Folclore Capixaba”. Foto: Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Nova Venécia, 2009.


A Cultura do Norte do Espírito Santo e, em especial, o nosso município de Nova Venécia, tem muito a festejar pela premiação recebida pelo “Mestre Anízio” do Grupo de Folia de Reis “Sois Reis”, grupo este, que vem atuando desde 2001 em Nova Venécia.
Sobre a Folia de Reis, manifestação folclórica que faz parte do Patrimônio Cultural (Imaterial) Veneciano, há testemunhos de que é realizada desde o início do século XX no território do nosso município. E, seguramente, merece todo apoio e atenção por parte do governo municipal para sua preservação/perpetuação. Agora que o esforço de décadas foi reconhecido pelo governo do Estado, avista-se o maior desafio: fazer os nossos jovens identificarem a Folia de Reis como sua herança cultural, para que esta tradição não se apague com o tempo.

Segue abaixo, a íntegra da notícia vinculada, no último dia 20, no site da Prefeitura Municipal:

Prêmio de R$ 10 mil para Mestre da Folia de Reis de Nova Venécia

Assessoria de Comunicação – Através do Projeto Editais da Cultura, lançado pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria da Cultura (Secult), em março deste ano, o Mestre de Folia de Reis de Nova Venécia, Anízio Antônio da Silva, 62, acaba de faturar R$ 10 mil como prêmio pelas ações em prol da cultura em pelo menos 28 anos de sua vida.

O veneciano foi o único artista da Folia de Reis contemplado no Norte do Estado, em meio a 200 concorrentes. O titulo faz parte do concurso específico da Folia de Reis, intitulado Mestre Armojo do Folclore Capixaba.

Em Nova Venécia a cultura é tratada com prioridade pela Secretaria de Cultura e Turismo. O Mestre premiado faz parte do grupo Sois Reis, que desde 2001 se apresenta em escolas e municípios da região.

Após a conquista, a intenção do Secretário de Cultura de Nova Venécia, Otamir Carloni é promover uma noite de folclore no Centro Cultural Casarão. “Além disso, vamos tentar fixar o senhor Anízio nos quadros efetivos da cultura veneciana, com o intuito de fortalecer os grupos mirins e resgatar os jovens para a Folia de Reis veneciana”, declara Carloni.

Valorização – O prêmio recebido pela Folia de Reis veneciana faz parte do projeto Editais da Cultura, lançado com 18 Editais de Incentivo à Cultura, que premia artistas de todo o Estado em vários vértices.

O objetivo é incentivar a formação e fomentar a criação, a produção e a distribuição de produtos e serviços que usem o conhecimento, a criatividade e o capital intelectual como principais recursos produtivos, e tornar a atividade cultural uma importante estratégia nos programas de desenvolvimento capixaba.



O Coordenador Cultural Oscar Ferreira, Mestre Anízio e o Secretário de Cultura e Turismo de Nova Venécia Otamir Carloni. O governo municipal está de parabéns por apoiar uma das mais tradicionais manifestações folclóricas de Nova Venécia. Torcemos para que esta "parceria" continue dando frutos e que a população veneciana se identifique e reconheça a Folia de Reis como parte de sua herança cultural. Foto: Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Nova Venécia, 2009.


Fonte: “Prêmio de R$ 10 mil para Mestre da Folia de Reis de Nova Venécia” disponível em http://www.novavenecia.es.gov.br/banco/noticias.php?id=236 , acessado em 25/08/2009. Sobre o Prêmio veja também “Secult publica resultado de mais três editais de incentivo à cultura” disponível em http://www.secult.es.gov.br/?id=/noticias/materia.php&cd_matia=1175 , acessado em 25/08/2009.

Quem foi “Mestre Armojo” ou “Hermógenes Lima Fonseca” (1916-1996)?*
O folclorista, historiador e escritor Hermógenes Lima Fonseca, natural de Conceição da Barra, Espírito Santo, foi uma das maiores autoridades na cultura e nos costumes populares capixabas.
Presidente da Comissão Espírito-Santense de Folclore, membro da Academia Espírito Santense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, Hermógenes é autor de inúmeras obras sobre o folclore capixaba e o povo da região.

*Fonte: “O folclore do Espírito Santo” disponível em http://www.aracruz.com.br/show_cmd.do?act=stcNews&menu=false&id=1523&lang=1 , acessado em 25/08/2009.


O Ticumbi, as Bandas de Congo, o Alardo, o Reis de Boi, a Folia de Reis, foram folguedos pesquisados pelo saudoso “Mestre Armojo” e, magistralmente, apresentados no seu livro “Tradições Populares no Espírito Santo” publicado, em 1991, pelo extinto Departamento Estadual de Cultura, do qual extraímos alguns trechos:

[A Significação dos folguedos folclóricos no Espírito Santo]**

Por Hermógenes Lima Fonseca (Mestre Armojo)

(...)
Esses folguedos são autos litúrgicos profanos, ligados aos festejos religiosos católicos, remontam a séculos. Atualmente apenas em alguns lugares são toleradas pela igreja, que ignora a sua origem e sua importância na demonstração da crença popular, uma forma da manifestação da fé que tem o povo aos seus santos protetores.
(...)
O expontaneismo de suas criações é a característica principal quando se observa com acuidade a música que cantam, a coreografia e a letra dos cantos.
É o teatro do povo no ambiente em que vive, a céu aberto, nas ruas ou em suas casinhas apertadas para se divertirem e ao povinho que assiste, prestigiando e valorizando esses numerosos grupos existentes por todos os cantos do Espírito Santo.

**Fonte: “Folclore do ES” – “A Significação” disponível em http://www.seculodiario.com/folclore/tradicoes/index3.htm acessado em 25/08/2009. O texto pertence à obra: FONSECA, Hermógenes Lima. Tradições populares no Espírito Santo. Vitória: Depto. Estadual de Cultura, Divisão de Memória, 1991.

sábado, 15 de agosto de 2009

101 Anos de São Roque do Pip-Nuk (1908-2009): A religiosidade popular no Canaã Veneciano

Capela de São Roque do Pip-Nuk em dia de festa no mês de agosto. A arquitetura simples da 4ª e atual capela, edificada em devoção a São Roque no Pip-nuk, sempre guardada pelo sino adquirido pelos MILLERI em 1909, há exatos cem anos atrás. Foto: Rogério Frigerio Piva, 1998.


Por Rogério Frigerio Piva*

No estado do Espírito Santo a devoção ao santo francês, nascido em Montpellier, na França, no ano de 1295 e cujo nome é Roque, possui muita popularidade, principalmente nos núcleos de colonização italiana. A sua festa é celebrada pela Igreja Católica no dia 16 de Agosto, época em que várias comunidades do interior promovem suas tradicionais festividades.
Existe no nosso estado, um município que possui seu nome. É São Roque do Canaã, emancipado a alguns anos do antigo município de Santa Teresa. Em nossa região, próximo à Nova Venécia, no município de São Gabriel da Palha, temos o povoado de São Roque da Terra Roxa. Cito apenas estes para exemplificar minha afirmação.

Em Nova Venécia os imigrantes também cultivaram essa devoção ao santo, tido como homem que cuidou do sofrimento humano (causado, pela peste que assolou a Europa de seu tempo) e, ao qual, é atribuída a seguinte frase: Desejo que todo aquele que invocar o meu nome fique curado e livre da peste.

No ano de 1891, no mês de dezembro, em Vitória, desembarcavam mais de mil imigrantes chegados do porto de Gênova, na Itália, vindos no navio Birmânia.

Após alguns dias na Hospedaria dos Imigrantes da Pedra d’Água (hoje penitenciária - IRS) situada na baía de Vitória, viriam para São Mateus de onde seguiriam para a região da Serra dos Aymorés (hoje Nova Venécia), onde se localizavam grandes fazendas de café, dentre elas a do coronel Matheus Gomes da Cunha, a fazenda Boa Esperança (hoje Serra de Cima) na qual a maioria deles se fixaria como diaristas ou meeiros.

Já corria o ano de 1892 quando o Governo do Estado criou o núcleo colonial Nova Venécia e colocou em sua direção o Dr. Antônio dos Santos Neves. Dentre as seções do núcleo, estava uma que se situava logo acima da sede (esta, conhecida como “Barracão”) e que fazia referência aos antigos habitantes da região, os índios da tribo Jiporok, nação Botocudo, conhecidos também por Aymorés. Era a Seção Pip-Nuk, nome que na língua borum, falada pelos índios, significa: eu não vi, e que a tradição oral registra como sendo o nome de seu último líder.

Mas o que destacamos é que no vale do rio Cricaré, no trecho conhecido por Pip-Nuk, floresceu uma das mais prósperas comunidades italianas do norte do estado, no século XIX e início do XX. E este, constitui hoje um dos sítios históricos mais importantes do município de Nova Venécia, tão importante quanto a região da APA da Pedra do Elefante.

Naquela época (1892) o Governo do Estado, dividiu o vale em lotes retangulares com área de 300.000 metros quadrados e os distribuiu a famílias de imigrantes que após algum tempo deveriam pagar suas dívidas geradas pela aquisição do lote.

Os colonos italianos pioneiros no Pip-Nuk foram àqueles chegados no navio a vapor italiano Birmânia, em dezembro de 1891 e, dentre eles, lembramos, para tirar do anonimato, as famílias: LIVIO, DELLAVEDOVA, OLIVIERI, FRIZIERO (hoje FRIGERIO), MAZARIN, ZANON, CAPELLETO, VIDOTTO, GASPARINI, BERCAVELLO, PACCAGNAN, BRAIDA, BIRAL, CEBIN, PUTTIN, CONTARATTO, FONTANA, CALATRONI, BUSATTO, MARCARINI, LAVAGNOLI, FERRUGIN, SABADINI, CHIAROTTI (hoje CHEROTTO), MESTRINELLI, SELVATICO e MILLERI.

Impossível não falar dos MILLERI, pois foi pela devoção dessa família que surgiu a capela de São Roque no Pip-Nuk, uma das mais antigas de Nova Venécia.

A família MILLERI, na época de sua chegada, era composta pelo patriarca Luigi, sua esposa AVOGARA Marianna e mais seis filhos, dentre eles, Serafino que tinha apenas cinco anos de idade quando chegou. Vinham de um lugar chamado Soave, na milenar província de Verona, pertencente à região do Vêneto, no norte da Itália.

Os MILLERI tinham um lote colonial, situado na margem direita do rio Cricaré, um pouco acima da cachoeira do Pip-Nuk onde ergueram a primeira capela de São Roque do Pip-Nuk, no ano de 1908. Compraram o sino, que ainda hoje é utilizado na capela, pela quantia de cento e cinqüenta mil réis paga ao Sr. José Valentim da Silva, representante do Dr. Arlindo Gomes Sudré, que devia ser o proprietário do mesmo, conforme recibo assinado por ele em 1º de setembro de 1908. Esse sino é centenário e, segundo alguns, teria pertencido a fazenda do Barão de Aymorés.

No ano de 1908, foi esculpida pelo imigrante italiano Celeste Rizzo, escultor que residia em Santa Leocádia, há aproximadamente 23 km de São Mateus, a imagem de São Roque, toda em madeira. Quanto à imagem de São Benedito, esta, pertencia à fazenda Boa Esperança e foi entregue aos MILLERI por Álvaro Gomes da Cunha, filho do coronel Matheus Cunha como atesta uma carta que data de 05 de março de 1909.


Detalhe do altar da capela de São Roque do Pip-Nuk. Além da típica escultura de São Roque feita em madeira pelo imigrante Celeste Rizzo, em 1908, existem outras como a de São Benedito, também centenária, que pertenceu a capela da Fazenda Boa Esperança do Coronel Matheus Cunha e que foi doada pelo filho deste, Álvaro, em 1909 para capela dos Milleri. Imagens de Nossa Senhora e do próprio Cristo, estas bem mais recentes, também fazem parte do acervo da capela que, desde os anos 1960, encontra-se na propriedade da família de Augusto Frigerio. Foto: Rogério Frigerio Piva, 1998.

È provável que antes de 1908, já houvesse algum capitello, uma espécie de oratório, como era o costume. Sabe-se que no caso da Capela de São Sebastião, situada mais acima e contemporânea a São Roque Pip-Nuk, o capitello existiu. Quanto à capela de Santa Rita, já no Alto Pip-Nuk, esta é de construção bem mais recente.

O Sr. Serafino MILLERI foi quem tomou a frente e cuidou da capela que estava construída próxima à residência da família, próxima a margem sul do rio Cricaré.

Os padres Carlo Regattieri e Francisco Traverso constam como os primeiros a assistir a capela, nos primeiros anos. Depois outros vieram e a própria capela serviu de escola.

As festas anuais e as procissões faziam todo o povo se reunir, mesmo os que não residiam no Pip-Nuk. Na década de 1920 chegaram a fazer uma procissão onde trouxeram a imagem de Santo Antônio do Córrego da Serra para o Pip-Nuk e levaram a de São Roque para o Córrego da Serra, tudo por causa da estiagem.

Milagre ou não, o fato é que as preces foram respondidas com muita chuva e uma enchente que destruiu parte da ponte velha (hoje no centro da cidade) que tinha acabado de ser construída.
Não só italianos, mas também brasileiros como as famílias: FARIAS, ELIAS, LIMA, CAYRU e SÁ (perdoem as omissões) freqüentaram São Roque.

Como o tempo, a primitiva capela foi substituída por outra, mais distante da margem do rio, devido à erosão, mas ainda no lote dos MILLERI.

Enquanto o Sr. Serafino viveu no Pip-Nuk, a capela permaneceu na propriedade dos MILLERI, mas como a vila e posterior cidade de Nova Venécia, começava a desenvolver-se, ele mudou para lá, o que fez com que a capela fosse transferida, por volta de 1961, para o outro lado do rio, na propriedade dos FRIGERIO, em local próximo à cachoeira do Pip-Nuk. Também esta terceira capela teve vida curta e foi transferida para o local onde se encontra até os dias de hoje (2009), ainda na propriedade da família de Augusto Frigerio.

Durante as décadas de 1960 e 1970 o êxodo rural esvaziou o vale da presença de inúmeras famílias que, a exemplo do Sr. Serafino foram para cidade, para outros municípios ou mesmo estados.

Mas a família FRIGERIO, como herdeira dessas relíquias religiosas, conseguiu permanecer no Pip-Nuk, no mesmo lote que o patriarca Giuseppe FRIZIERO escolhera, em 1910, para viver e onde, em 1929, construiu a sua residência, raro exemplar da arquitetura italiana produzida pelos imigrantes no Pip-Nuk.

Todos esses marcos são representativos da cultura e religiosidade em Nova Venécia, que, como em outras regiões, é marcada pela simplicidade e rusticidade popular, verdadeiro exemplo de devoção cristã.


NOTA: Outra versão do presente artigo foi publicada com o título “A Religiosidade Popular no Canaã Veneciano” no jornal “Folha do Estado” em 05/10/2002.


*Rogério Frigerio Piva é natural de Nova Venécia. Historiador graduado pela Universidade Federal do Espírito Santo. Pesquisa sobre a História de Nova Venécia desde 1992. Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. Trabalhou por 10 anos no Arquivo Público do Estado do Espírito Santo onde ocupou diversos cargos. Atualmente é Professor de História e Filosofia do Centro Educacional Evolução.

sábado, 1 de agosto de 2009

Vale do Pip-Nuk, o “Canaã Veneciano”: Vestígios de uma saga de 117 anos (1892-2009).

Cartão Postal confeccionado para a campanha “S.O.S. Pip-Nuk”, articulada pelos moradores da região. A Cachoeira de São Roque do Pip-Nuk, como é mais conhecida, é um Patrimônio Natural de Nova Venécia que quase desapareceu, devido à proposta de construção de uma barragem no rio Cricaré. Foto: Idáulio Bonomo [?], 2002.


Por Rogério Frigerio Piva*


Em 2002 comemoramos o centenário de publicação do romance “Canaã” do escritor Graça Aranha. Esta obra, referência da literatura brasileira do início do século XX, fala sobre os sonhos e esperanças dos imigrantes alemães em terras capixabas, tendo como cenário, o município de Santa Leopoldina, além de Santa Teresa, do vale do Rio Doce e arredores.

Todo o Espírito Santo foi rico em “canaãs” entre o final do século XIX e meados do século XX. No antigo município de São Mateus, o nosso “Vale do Canaã”, tinha outro nome, mas era povoado das mesmas esperanças. Era o “Pip-Nuk”, um trecho do vale do braço Sul do Rio São Mateus ou rio Cricaré, situado atualmente no município de Nova Venécia.

Há muito tempo, antes da chegada dos colonizadores europeus, essa região, já era habitada por índios da nação dos botocudo, a tribo dos Jiporok, que também eram conhecidos como Aymoré ou mesmo Pip-Nuk que, segundo alguns, seria o nome do último grande capitão (= líder) que estes possuíram antes de serem extintos no início do século XX. De sua passagem pela região restaram apenas os vestígios arqueológicos ainda por serem explorados e, até mesmo, a referência dos mais antigos a locais próximos a São Roque de Pip-Nuk, onde arranchavam, pois, sendo caçadores/coletores nômades, viviam se deslocando nas margens do rio Cricaré.

A referência aos Pip-Nuk, se preservou, mesmo com a chegada dos colonizadores. Depois deste breve esclarecimento, passemos para etapa seguinte dessa História, que começou no Reino da Itália, por volta do ano de 1891, quando, no dia 19 de Novembro, mais de mil imigrantes, no porto da cidade de Gênova, embarcaram no navio a vapor “Birmânia”, com destino ao porto de Vitória, capital do Estado do Espírito Santo.

Após mais de vinte dias sobre o oceano Atlântico, desembarcaram na Hospedaria de Imigrantes da Pedra d’Água (onde hoje funciona o Instituto de Reabilitação Social – IRS), na baía de Vitória, no dia 10 de dezembro. Permaneceram na Hospedaria até os dias 15 e 30, quando as famílias de imigrantes italianos, destinadas aos núcleos coloniais de Santa Cruz e São Mateus, foram divididas em dois grupos, respectivamente, embarcados nos navios costeiros de bandeira brasileira, de nomes “Lúcia” e “Mayrink”, com destino ao porto da cidade de São Mateus.

Ao chegarem, algumas famílias se destinaram no núcleo colonial de Santa Leocádia, mas, a maioria, rumou para as fazendas da região da Serra dos Aymorés (atual Nova Venécia), principalmente para a fazenda da Boa Esperança (atual Serra de Cima), propriedade do Coronel e Comendador Matheus Gomes da Cunha, irmão do Barão de Aymorés. Provavelmente, chegaram no mês de janeiro do ano de 1892.

Nesta época, o Governo Estadual criou o Núcleo Colonial de Nova Venécia, a cargo do Dr. Antônio dos Santos Neves, que foi o Diretor responsável pela demarcação dos lotes, fatiados às margens do rio Cricaré, desde abaixo da atual cidade de Nova Venécia até a região conhecida por Boa Vista, bem acima do Pip-Nuk. Eram lotes com área de 300 mil metros quadrados, em plena mata virgem.

Para alcançar seus lotes, é possível que estas famílias tenham passado pelo córrego Boa Esperança, que, nessa época, já contava com alguns colonos brasileiros, sobretudo cearenses, como as famílias: ELIAS, LIMA, LOURENÇO e FIRMINO DA COSTA, dentre muitas outras. Por ali, os italianos alcançaram as margens do Cricaré, e foram habitar nos lotes daquela que ficou conhecida como “Seção de Pip-Nuk” do Núcleo Nova Venécia.

Ali viveram seus sonhos e suas tragédias, pois muitos pereceram naqueles primeiros anos, mas os sobreviventes fundaram a maior comunidade de italianos do município de São Mateus.

Dentre estes colonos pioneiros, que vinham, em sua maioria, das províncias de Pádova, Verona e Treviso, lembramos: LIVIO Giovanni, DELLAVEDOVA Pietro, MILLERI Luigi, OLIVIERI Eugenio, FRIZIERO Luigi, MAZARIN Dario, ZANON Antonio, CAPELLETO Francesco, VIDOTTO Luigi, GASPARINI Natale, BERCAVELLO Beniamino, PACCAGNAN Pietro, BRAIDA Giulio, BIRAL Antonio, CEBIN Marco, PUTTIN Giovanni, CONTARATTO Angelo, FONTANA Giuseppe, CALATRONI Angelo, BUSATTO Antonio, MARCARINI Andrea, LAVAGNOLI Lodovico, FERRUGIN Francesco, SABADINI Luigi, CHIAROTTI Pasquale, MESTRINELLI Francesco, SELVATICO Luigi, dentre outros, todos com suas respectivas famílias.

No ano de 1893, vindos de Vitória no navio “Bento Gonçalves” chegaram os “napolitanos” representados pelas famílias CEGLIA (hoje SELIA) e TAGLIAFERRO. E por fim, em 1894, também chegados no porto de São Mateus pelo navio “Lucia”, os “lombardos”: ROSA Pietro, PANZERI Giovanni e seu irmão PANZERI Silvestre, FRIGERIO Antonio, AIROLDI Giosuè, REDAELLI Caetano, também com suas famílias. Lembramos que, mais tarde, outros imigrantes italianos e migrantes brasileiros se deslocaram para o Pip-Nuk.

No início do século XX, as terras de Pip-Nuk foram consideradas as melhores e mais produtivas, pelo enviado do cônsul italiano da época, Sr. Rizzeto, que calculou cerca de 200 famílias habitando o Pip-Nuk (todas italianas), mais do que em qualquer outro lugar, em todo o antigo município de São Mateus.

Também, nesta época, migrantes de Minas Gerais também se estabeleceram ali como: Clarindo Pacheco Rolim, Francisco Luiz de Sá e Manoel Ferreira da Rocha.

Segundo o nosso saudoso Pe. Carlos Furbetta, em seu livro “História da Paróquia de Nova Venécia”, publicado em 1981, a primeira capela construída pelos imigrantes em Pip-Nuk, foi a de São Sebastião, que existia, primitivamente, na margem sul do rio, próximo do morro onde, no cume, ainda hoje, se encontram os vestígios do centenário “Cemitério de São Sebastião do Pip-Nuk”, local de repouso dos restos mortais de muitos patriarcas e matriarcas venecianos, e onde, no passado, existiu a sede da Seção do Pip-Nuk, terreno que hoje pertence a um descendente do imigrante Silvestre PANZERI. O Padre Furbetta, calculou que São Sebastião fosse do ano de 1917, mas documentos comprovam que a capela de São Roque, atualmente na propriedade do Sr. Augusto Frigerio, na margem norte do rio, seria de devoção mais antiga, pois, somente a imagem de São Roque, esculpida pelo imigrante Celeste Rizzo, que residia em Santa Leocádia, remonta ao ano de 1908.

A primeira capela de São Roque foi construída na margem sul do rio, no antigo lote da família MILLERI, que também adquiriu o secular sino dos fazendeiros da Serra dos Aymorés e recebeu a guarda da imagem de São Benedito, que pertencia a Álvaro Cunha, filho do cel. Matheus Gomes da Cunha.

Hoje, a capela, em sua quarta edificação, localiza-se na propriedade do Sr. Augusto Frigerio, nas proximidades da casa construída, no ano de 1929, por seu pai, o italiano - natural da comuna de Abano Terme, na província de Pádova - Giuseppe FRIZIERO (hoje Frigerio). A casa é um dos últimos exemplares de arquitetura italiana feita no Pip-Nuk, por esses italianos que lá se estabeleceram no início da década de 1890.

Vista panorâmica da região de São Roque do Pip-Nuk, tendo ao centro a antiga residência da família FRIGERIO, construída em 1929, pelo patriarca italiano Giuseppe Friziero, um dos últimos exemplares da típica arquitetura rural feita por imigrantes italianos em Nova Venécia. Foto: Rogério Frigerio Piva, 2002.
A antiga residência compõe com a capela de São Roque, a cachoeira no rio Cricaré e o vale, um cenário de rara beleza, que esteve prestes a desaparecer devido à ameaça de uma barragem, que iria colocar um importante sítio histórico do município de Nova Venécia, de baixo d’água, devido a um convênio entre a Prefeitura Municipal e a CESAN no ano de 2002.

Um patrimônio natural e cultural veneciano que esteve prestes a ser destruído, ou melhor, sepultado pelas águas, o que, felizmente, não se concretizou graças à articulação dos moradores que se mostraram contrários à "forma" como a obra estava sendo encaminhada.


NOTA: Outra versão do presente artigo foi publicada com o título “Canaã veneciano ameaçado pelas águas: Construção de barragem poderá submergir o remanescente histórico de uma saga de 110 anos (1892-2002)” no jornal “Folha do Estado” em 10/08/2002.


*Rogério Frigerio Piva é natural de Nova Venécia. Historiador graduado pela Universidade Federal do Espírito Santo. Pesquisa sobre a História de Nova Venécia desde 1992. Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. Trabalhou por 10 anos no Arquivo Público do Estado do Espírito Santo onde ocupou diversos cargos. Atualmente é Professor de História e Filosofia do Centro Educacional Evolução.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Biblioteca Pública Municipal “Dr. Eduardo Durão Cunha”: Há 42 ANOS na História de Nova Venécia.

Obra da gestão do ex-prefeito Antônio Barbosa Sena Junior (1973-1976) o prédio que serve de sede para Biblioteca Pública Municipal “Dr. Eduardo Durão Cunha”, apesar de sua beleza estética, necessita de ampliação, que deverá prever setores e depósitos para preservação de acervos bibliográficos, produzidos em Nova Venécia e/ou regiões vizinhas, dentre outros. Foto: Rogério Frigerio Piva, 01/02/2009.


A biblioteca pública de Nova Venécia foi criada por meio da Lei Municipal nº 483 de 05 de Maio de 1967, na primeira gestão do ex-prefeito Walter De Prá (1967-1970). Funcionou, primeiramente, em uma antiga casa à Rua Eurico Salles, próxima à Delegacia de Polícia, no Centro de Nova Venécia.

O Dr. Eduardo Durão Cunha que emprestou seu nome a esta nobre instituição foi Promotor Público em Nova Venécia na década de 1960. Era bisneto do Barão de Aymorés, filho do veneciano Eugênio Neves Cunha. Fato curioso é que era vivo quando recebeu a homenagem, tendo falecido há poucos anos em São Mateus, onde foi sepultado. Além de advogado, era historiador e deixou uma obra inédita sobre a História de São Mateus que ainda aguarda publicação, bem como vários artigos publicados em periódicos mateenses como a Revista Especial “São Mateus 450 Anos”, publicada em 1994. Em 1997 foi homenageado na própria biblioteca que leva seu nome, onde fez breve palestra.

Quanto a nossa biblioteca, somente na gestão do ex-prefeito Antônio Barbosa Sena Junior (1973-1976) ganhou a sua sede definitiva à Avenida Mateus Toscano, nº 35, onde se encontra até hoje, em meio a importantes instituições de ensino como as escolas: “Dr. Adalton Santos”, “Professora Claudina Barbosa”, “Dom Daniel Comboni” e “APAE”. A sede da biblioteca veneciana é considerada, do ponto de vista arquitetônico, uma das mais belas do interior do Espírito Santo.

De estilo moderno, o prédio possui linhas simples que lembram o aconchego de uma residência. É possível que sua arquitetura tenha sido inspirada na da Escola Polivalente (hoje "Dr. Adalton Santos) construída, no início da década de 1970, próximo dali, também na Av. Mateus Toscano. Sua cobertura é telhas tipo colonial (capa-canal) no “estilo Simonassi”. Suas janelas e portas são de ferro e vidro e existem detalhes de tijolos expostos em sua fachada, que também ostenta uma parede que imita um “livro aberto”, onde se inscreve o nome da mesma, como que convidando a uma leitura.

Diferentemente de uma “biblioteca escolar”, uma Biblioteca Pública Municipal, assim como seu equivalente estadual e nacional, devem, não apenas ter como função/missão a difusão da leitura e acesso a informação, mas também a PRESERVAÇÃO de acervo bibliográfico (jornais, revistas e outros) publicado em Nova Venécia e região vizinha, o que, devido à falta de espaço e de uma “política” voltada para este objetivo ainda hoje não foi alcançado.

Chamamos também a atenção para o rico, apesar de duramente “desfalcado”, acervo fotográfico oficial do município, onde encontramos inúmeras imagens de execução de obras, inaugurações e eventos promovidos por órgãos da municipalidade entre as décadas de 1960-1990, que se encontra albergado na Biblioteca Municipal.

Tendo passado por poucas reformas nestes mais de 30 anos, o prédio mostra-se hoje, insuficiente para albergar o acervo e atender os seus usuários. Porém, ao fundo da edificação existe amplo terreno que poderia ser utilizado para uma ampliação (certamente, mantendo suas características arquitetônicas, é claro!), que dará vigor a uma das instituições culturais mais antigas da cidade que, sem dúvida, já foi visitada por muitos venecianos.

Esta ampliação, deve levar em conta que nossa Biblioteca Municipal, não é apenas espaço de difusão da leitura, mas também, de PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA!!!

Que os 42 ANOS completados no último dia 05 de Maio sejam os primeiros de uma nova era para nossa querida Biblioteca Pública Municipal!!!

Construída na década de 1970 (entre 1973-1976) a sede da Biblioteca Municipal possui características arquitetônicas que lembram o acochego de uma residência. Foto: Rogério Frigerio Piva, 01/02/2009.


Apresentamos abaixo, na íntegra, o texto da Lei Ordinária Municipal Nº 483 de 05/05/1967. Verdadeira “certidão de nascimento” da nossa biblioteca:


LEI Nº. 483

Cria Biblioteca Municipal.


O cidadão Walter De Prá, Prefeito do Município / de Nova Venécia, Estado do Espírito Santo, no uso das atribuições / legais, faço saber que a Câmara Municipal decretou e eu sanciono / a presente Lei, com os Vetos dos artigo 2º e 6º.
Art. 1º - Fica o Poder Executivo autorizado a / criar e instalar uma Biblioteca Pública Municipal, na Séde deste / Município, para o fim de atender as necessidades e exigências da / população veneciana.
Art. 2º - V E T A D O.
Art. 3º - As despesas que ocorrerão com a cria- / ção, instalação e funcionamento da Biblioteca, será extraído da / verba 4.1.1.3 94, até o montante de NCR$ 1.500,00 ( hum mil e qui- / nhentos cruzeiros novos).
Art. 4º - Que o nome da Biblioteca, ficará com / o nome do Dr. EDUARDO DURÃO CUNHA, nosso digno Promotor Público.
Art. 5º - Fica designado o funcionário Municipal / sr. Fernando Alves dos Santos, para funcionar como Bibliotecário.
Art. 6º - V E T A D O.
Art. 7º - Fica autorizado o Chefe do Poder Execu- / tivo a celebrar Convênio com o Instituto Nacional do Livro, para / fins especificado.
§ Único – Revogam-se as disposições em contrário.

Razões do V E T O:

Art. 2º - A municipalidade não dispõe de cômodo para atender a ne- / cessidade de instalação.
Art. 6º - Cabe ao Prefeito Municipal a iniciativa de criar cargos e / aumentar a despesa pública, conforme Art. 1º do Ato Com- / plementar nº 15.

Gabinete do Prefeito Municipal de Nova Venécia, 05 de Julho de 1967.



[ass.] Walter De Prá
Prefeito Municipal.

Registrada nesta Secretaria no Livro próprio.
Publicada nesta data.

[ass.] Eunice Simões Barbosa
Secretária


Nota: o texto da Lei 483/1967 foi transcrito a partir de cópia digital do autógrafo original, disponível no site da Câmara Municipal de Nova Venécia (http://www.cmnv.es.gov.br/legislacao_municipal.asp) em 14/05/2009.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Conheça os Patrimônios Naturais e Paisagísticos de Nova Venécia protegidos por lei municipal.

PEDRA DO DEDO na região de Cristalino em Nova Venécia (ES). Foto de Alex Zaché [s/d]. Disponível em 03/07/2009, no site (http://www.ace-es.org.br/scripts/fotos.asp) da Associação Capixaba de Escalada (ACE-ES).


Creio que seja do desconhecimento de muitos que algumas de nossas belezas naturais já tenham proteção legal contra sua descaracterização/destruição. Refiro-me aos Patrimônios Naturais e Paisagísticos destacados pelo Art. 228 da Lei Orgânica de Nova Venécia promulgada em 1990.

Infelizmente, alguns deles como a Pedra do Dedo ou a do Oratório, bem como os rios Muniz Freire e o rio Quinze de Novembro, quase nunca são citados quando se fala de turismo em Nova Venécia.

Entendemos que talvez não os citem, devido as regiões, onde se localizam, não possuírem uma estrutura para acolhimento do turista, mas lembramos que são patrimônios reconhecidos por lei e que fazem parte das paisagens venecianas, devendo, portanto, ter o destaque justo e necessário, e certamente, isso aumentará ainda mais o “orgulho” do povo veneciano.

Chamamos a atenção para a “ausência” da Pedra da Invejada, que é o segundo ponto mais alto do município, no supracitado artigo 228. Além disso, há alguns erros de nomenclatura no texto do mesmo, como por exemplo: rio muniz ao invés de rio Muniz Freire; rio Santo Antonio do Quinze ao invés de rio Quinze de Novembro; rio cricaré ao invés de rio do Sul ou Cricaré; rio do norte ao invés de rio do Norte ou Cotaxé. Ausências e incorreções que podem facilmente corrigidas pela nossa Câmara Municipal, por meio de uma emenda ao referido artigo, alterando a sua redação e tornado o seu texto ainda mais abrangente e específico.


Formação Rochosa que compõe a Área de Proteção Ambiental (APA) da PEDRA DO ELEFANTE, vista a partir do vale do córrego da Serra, município de Nova Venécia (ES). Foto: Rogério Frigerio Piva, 25/01/2009.

Problemas a parte, destacamos a importância do referido artigo na proteção de nosso Patrimônio Natural e rendemos homenagens e gratidão aos vereadores constituintes que promulgaram a nossa Lei Orgânica, em 1990, inserindo na mesma, um artigo tão importante como este e que deve ser amplamente divulgado.

Além disso, esse artigo, deveria ser regulamentado por Lei ou Decreto específico onde, por exemplo, se especificaria qual órgão da municipalidade será responsável pela fiscalização dos patrimônios elencados, bem como, outros que possam ser destacados futuramente.

Em nosso município a atenção deve ser redobrada, principalmente por termos este título de “Capital do Granito”, o que aumenta a nossa responsabilidade, para que nosso patrimônio com beleza cênica singular não termine como revestimento de parede ou piso de alguma edificação e, em seu lugar leguemos as gerações futuras apenas “crateras lunares”.

Chamamos também a atenção para os parágrafos segundo e terceiro ainda do Art. 228 que declara todas as árvores plantadas em praças e jardins, vias e logradouros públicos da cidade, nos distritos, vilas e patrimônios também como Patrimônio Natural e Paisagístico. Ele explicita que, qualquer árvore nessa condição só poderá ser sacrificada, caso estudos técnicos comprovem a inviabilidade de sua permanência no local onde se encontrar.

PEDRA DA FORTALEZA (com 964m de altitude) no distrito de Guararema em Nova Venécia. Foto de Antônio Carlos Santos Oliveira [2008?]. Postada na seção Viagem.AG do Portal Gazeta online - Galeria de Fotos de Nova Venécia em 03-06-2008.


Segue abaixo o Art. 228 na íntegra:

Artigo 228 da Lei Orgânica do Município de Nova Venécia (ES), promulgada em 05 de Abril de 1990:

Capítulo II: Da Educação, da Cultura, do Desporto e do Lazer e do Meio Ambiente.

Seção IV: Meio Ambiente

Art. 228 – São patrimônios naturais e paisagísticos do Município:

I – o rio cricaré;
II – a bacia hidrográfica que compõe o Município;
III – o rio do norte;
IV – o rio muniz;
V – a pedra do elefante;
VI – a pedra do dedo;
VII – a pedra da fortaleza;
VIII – a pedra do oratório;
IX – o rio Santo Antônio do Quinze.

§ 1º - As unidades referidas nos incisos anteriores são consideradas patrimônios naturais e paisagísticos do Município, e não poderão sofrer qualquer tipo de destruição ou descaracterização, ficando assegurado a sua preservação;

§ 2º - É patrimônio natural e paisagístico do Município todas as árvores plantadas em praças e jardins, vias e logradouros públicos da cidade, nos distritos, vilas e patrimônios, sendo proibido o corte de qualquer árvore, salvo estudos técnicos que comprovem a sua derrubada.

§ 3º - Toda pessoa, órgão ou empresa que promover o corte de uma árvore nas áreas citadas no parágrafo anterior, sem prévia autorização do órgão competente acompanhado de laudo técnico, serão autuados pela fiscalização municipal e multados na forma da lei, conforme a gravidade do ato.


Fonte:
CÂMARA MUNICIPAL DE NOVA VENÉCIA. Lei Orgânica (1990). Edição da Câmara : Nova Venécia, 1990, p. 101-102.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

13 de Junho: A devoção a Santo Antônio no Córrego da Serra

Procisão de Santo Antônio no Córrego da Serra. Devotos conduzindo a centenária imagem do santo mais popular do Brasil, cuja devoção, em terras venecianas, é uma das mais antigas remontando ao final do século XIX. Foto: Rogério Frigerio Piva, 2000.

Por Rogério Frigerio Piva*


Santo Antônio de Pádua é considerado um dos santos mais populares da Igreja Católica. Nascido em Lisboa, Portugal, foi batizado com o nome de Fernando e ainda jovem entrou para a Ordem Franciscana onde passou a se chamar Antônio e, como morreu em Pádua, na Itália, seu nome seria consagrado como Antônio de Pádua.

Em Nova Venécia, a devoção pelo Santo Antônio data da própria colonização da região. No ano de 1888, o Império Brasileiro decretou a Abolição da Escravatura. E, temendo a falta de braços para lavoura, os fazendeiros de São Mateus, da região da Serra de Aymorés (atual Nova Venécia) no extremo oeste do município solicitaram a vinda de levas de imigrantes italianos para cá.

Dentre estes, contava-se o Major Antônio Rodrigues da Cunha que possuía a Fazenda da Serra dos Aymorés (atual Serra de Baixo). Nesta fazenda, no dia 17 de Janeiro de 1889, chegou um grupo de famílias, quase todas provenientes da Província de Verona, e que vieram no navio Ádria, cujos chefes eram: Pasquale MERLIN, Luigi PETTENE, Luigi GATTI, Carlo FLANGIN e Angelo PIOMBIN. E, ainda no ano de 1889, em março, vieram: Nicolò CADORIN (de Treviso), Francesco ROGIN (de Pádova) e Pietro FACCIN (de Vicenza) todos com suas respectivas famílias.

Conta-nos o Sr. Luiz Merlin, neto do Pasquale, que, naquele tempo, após uma semana de trabalho árduo na lavoura de café, os imigrantes se reuniam na sala de festas da casa-grande, sede da fazenda e, após a reza do terço que era “puxada” pelo Angelo Piombin, os italianos começavam o baile, cuja concertina era tocada pelo seu avô. E, enquanto isso, nos anos que se seguiram, outras levas de imigrantes chegaram nas fazendas.

Em 1892, já no período republicano, Governo do Estado, ordenou a criação do Núcleo Colonial Nova Venécia, vizinho às fazendas da Serra dos Aymorés, que se dividia em várias seções, dentre elas a do Córrego da Serra, para onde a maioria das famílias que trabalhavam na fazenda do Major Antônio Rodrigues da Cunha, se transferiu.

Capitello

É aqui que começa a história da devoção de Santo Antônio no Córrego da Serra, pois, o Sr. Angelo Piombin, natural da Província de Verona, ergueu, em seu lote, uma capelinha ou oratório (no italiano capitello) para Santo Antônio, próximo de onde hoje se localiza um curral, a alguns metros da atual capela, no alto de um morro, após a ponte do Agiro e um trecho enladeirado da estrada. Construção modesta que dataria dos últimos anos da década de 1890, no século XIX, portanto, uma devoção centenária em Nova Venécia.
Como também centenária é a imagem de Santo Antônio esculpida na madeira, que seria da época do Angelo Piombin, e que fôra encomendada a um outro colono italiano que era escultor e residia em Santa Leocádia, conhecido por Celeste Rizzo.

Imagem centenária, esculpida em madeira pelo imigrante italiano Celeste Rizzo. É um Patrimônio
Cultural de valor incalculável para Nova Venécia. Foto: Rogério Frigerio Piva, 2000.

No início do século XX a família Piombin, retornou para Itália e o lote foi vendido a um baiano que havia se erradicado na região desde o final do século XIX, o Sr. Claudiano Rodrigues do Nascimento.

O filho do Claudiano, Sr. Zenóbio, nascido em 1914, nos conta que conheceu a capelinha e que suas irmãs costumavam enfeitá-la com “bandeirolas” na época da festa.
A devoção de um italiano foi fortalecida por um baiano. O próprio Claudiano se casou com uma italiana, a Sra. Rosa Caloni.

Segunda Capela

Foi o Claudiano que transferiu a capela para o local onde se encontra até hoje. Construindo a segunda capela, maior, feita, ainda, com esteios de madeira e paredes de estuque em meados da década de 1920.

Em 1925, chega da Itália o Leão de Bronze de São Marcos, conservado dentro de uma caixa de madeira revestida de veludo vermelho. Guardado provisoriamente na casa do Sr. Tito Cunha foi, logo depois, levado para a Capela de Santo Antônio onde ficou até que se construísse a Capela de Nosso Senhor do Bonfim, por volta de 1932, para onde depois foi levado.

Nesta época a festa de Santo Antônio já era tradicional, e, além desse evento anual, a capela acolhia devotos e devotas, que em seu interior rezavam o terço, ou mesmo a missa quando, de tempos em tempos, aparecia algum padre.

Por volta da década de 1930, muitas famílias migraram para a região ao norte do rio Cricaré, principalmente para as regiões do Refrigério, Córrego da Areia e da Ajuda.

Quando em 1938, iniciou-se construção da primeira igreja de São Marcos, os freqüentadores da capela de Santo Antônio contribuíram com mão-de-obra e recursos financeiros.

Capela Atual

No início da década de 1940, com a segunda capela atacada por cupins deu-se início à atual, no mesmo local desta, agora feita de alvenaria. A construção ficou a cargo do Sr. Zenóbio e de outros que ainda moravam no Córrego da Serra, dentre eles, o Sr. Ozório Tiburtino. Os tijolos foram fabricados por eles, ali mesmo, em local próximo da atual capela que, na época, recebeu uma cobertura de telhas de barro do tipo “cumbuca” (telha colonial).

Na década de 1950 construiu-se o anexo que ampliou a capela, a parte onde hoje fica o altar, este, inclusive, feito de madeira pelo irmão do Sr. Zenóbio, o Sr. Rui Rodrigues.

Das famílias que residiram no Córrego da Serra e que freqüentaram a capela durante todo esse tempo lembramos: PIOMBIN, FLANGIN (hoje Frangini), MERLIN, PETTENE, GATTI, CADORIN, ROGIN, FACCIN, CALONI (hoje Carloni), BOLDRIN, MIOTTO, BAROLO, BONOMETTI, VECHIATTO, VALENTI, ROZZATTI, CAMPAGNOLA, BELUZZO (hoje Belucio), DANIELLETO, FANTICELLI, MONARIN, MARANI, CUNHA, LEITE, VILLA NOVA, NUNES, BARCELLOS, AYRES FARIAS, MOTTA, TIBURTINO e RODRIGUES, dentre outras.
Na década de 1990, a capela se tornou comunidade, e hoje possui culto regular.

A capela de Santo Antônio do Córrego da Serra representa um dos poucos patrimônios históricos que resistem em Nova Venécia, situando-se hoje, praticamente em região limítrofe à área urbana, enquanto as duas outras capelas, outrora existentes na cidade de Nova Venécia, respectivamente: Capela de Nosso Senhor do Bonfim (1932) e Capela de São Marcos (1938), cujas devoções eram bem mais recentes que a de Santo Antônio já foram demolidas há muito tempo. E Santo Antônio ainda resiste, como símbolo de um povo e sua devoção cristã.

A terceira capela de Santo Antônio do Córrego da Serra. Construída por volta da década de 1940, apesar das intervenções que descaracterizaram o seu interior, é mais um Patrimônio Cultural edificado de Nova Venécia que resiste ao tempo. Foto: Rogério Frigerio Piva, 2000.


Sabemos que nosso relato, ainda contém lacunas, pois ainda nos faltam dados mais precisos, mas essa, é nossa pequena contribuição a uma das festas mais tradicionais de Nova Venécia.

Vitória (ES), 30 de Maio de 2002.



*Rogério Frigerio Piva é natural de Nova Venécia. Historiador graduado pela Universidade Federal do Espírito Santo. Pesquisa sobre a História de Nova Venécia desde 1992. Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. Trabalhou por 10 anos no Arquivo Público do Estado do Espírito Santo onde ocupou diversos cargos. Atualmente é Professor de História e Filosofia do Centro Educacional Evolução.


Nota: O presente artigo, com o título “A devoção a Santo Antônio no Córrego da Serra”, foi publicado à página 02 do jornal "Folha do Estado", edição nº 00, de 14/06/2002.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Ciclo de palestras sobre a História Veneciana destaca a importância da preservação do patrimônio cultural para a construção da identidade regional


Alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental "Dr. Adalton Santos" assistem a palestra sobre a História de Nova Venécia. Foto: Vanda B. Francischetto Milleri, 20/04/2009.

Com o objetivo de chamar a atenção dos jovens venecianos para a História Regional, o Projeto Pip-Nuk, através do historiador e professor Rogério Frigerio Piva, em parceria com escolas da rede privada e pública (municipal e estadual) vem promovendo palestras sobre a História Veneciana.

A palestra “Da colonização à emancipação (1870-1953): Uma breve História de Nova Venécia” trata de um dos períodos cruciais para formação do atual município de Nova Venécia: o de sua colonização.

São aproximadamente 50 a 60 minutos, nos quais se apresenta uma síntese de 83 anos de História, abordando desde as três principais matrizes étnicas que atuaram neste processo: indígenas, africanos e europeus, além de destacar aspectos econômicos, políticos e socioculturais. Veja em nosso blog o artigo homônimo que trata do período abordado na palestra.

O convite inicial partiu da professora de História da Escola Estadual de Ensino Médio Dom Daniel Comboni, Izabel Maria da Penha Piva, integrante do Projeto Pip-Nuk. No dia 02/04/2009, a palestra foi proferida para alunos do ensino médio do turno matutino da EEEM Dom Daniel Comboni. No dia 20/04, foi a vez da Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. Adalton Santos, onde, algumas turmas do turno vespertino nos prestigiaram com a sua atenção, após termos recebido o convite da professora Vanda B. Francischetto Milleri. No dia do município, 24/04, a convite da equipe pedagógica do Centro Educacional Evolução, apresentamos a palestra a todos os alunos do Ensino Fundamental do 6º ao 9º ano.

As escolas forneceram o espaço físico e equipamentos necessários, enquanto que o “recurso humano” ficou por conta do Projeto Pip-Nuk, sem ônus para nenhuma das instituições.

Esperamos ter oportunidade de fazer outras apresentações, inclusive, para um público não-escolar.

Destacamos que a História e a Cultura Veneciana não devem ser focadas somente na época da Festa da Cidade. Podem e devem ser trabalhadas nas escolas e/ou na mídia local em qualquer época do ano.

O período em torno do dia do município é propício à reflexão, mas não deve ser o único. Devemos destacar essa importância durante qualquer momento do ano para não ficarmos presos a uma mera “data comemorativa”.

Somente depois de conhecer a sua História, o veneciano poderá identificar-se com a sua terra, respeitando suas tradições, sua memória e seu patrimônio natural e cultural.

É urgente despertar esse interesse na população, em especial, nos nossos jovens. Somente assim, fortaleceremos a identidade dos venecianos e com ela, a sua auto-estima a fim de torná-los verdadeiros e atuantes cidadãos.

Na oportunidade agradecemos as escolas citadas, onde fomos muito bem acolhidos e retornaremos, sempre que houver novos convites.

Alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental "Dr. Adalton Santos" assistem a palestra sobre a História de Nova Venécia. Foto: Vanda B. Francischetto Milleri, 20/04/2009.

sábado, 2 de maio de 2009

DA COLONIZAÇÃO À EMANCIPAÇÃO (1870-1953): Uma breve História de Nova Venécia


Por Rogério Frigerio Piva*

A História de Nova Venécia pode ser dividida em três períodos. O primeiro (desde antes do século XVI até século XIX) abrange a pré-colonização do território, compreendendo a ocupação do mesmo por povos indígenas desde os tempos mais remotos, até a chegada dos colonizadores. O segundo (1870-1953) inicia-se a partir da colonização do território, com a fundação da Fazenda da Serra dos Aymorés (hoje Serra de Baixo) terminando com a emancipação política do distrito. Já o terceiro período (1954 até hoje) tem início com a instalação do novo município, o desenvolvimento da cidade e alcança até os dias atuais.
Ainda, com relação ao segundo período (1870-1953), pode-se estabelecer uma subdivisão em três fases distintas, a saber: 1ª Fase (1870-1888) – abrange o período da escravatura ou cativeiro destacando-se a fundação de grandes latifúndios na região e as lutas e resistências do povo africano. A 2ª Fase (1888-1922) – inicia-se com o fim da escravidão, destaca-se pela criação do Núcleo Colonial de Nova Venécia, o recebimento de inúmeras levas de imigrantes e migrantes, seguindo até o efetivo início da construção da Estrada de Ferro São Matheus. Já a 3ª Fase (1922-1953) percorre o desenvolvimento do núcleo urbano a partir da construção de grandes obras como a primeira ponte e a conclusão da Estrada de Ferro, a colonização das regiões de Guararema, Córrego Grande (hoje Vila Pavão) e Santo Antônio do XV, os conflitos advindos do Contestado entre Minas Gerais e Espírito Santo, até culminar com a efetiva emancipação política de Nova Venécia.
O presente artigo percorrerá a trajetória da colonização do município ocupando-se com o que identificamos como Segundo Período (1870-1953) e suas respectivas fases.

Inicialmente, é preciso que se compreenda que, ao falar de “História”, significa que estamos buscando todos os vestígios deixados pelo homem, em diferentes períodos de ocupação, no território que compreende atualmente o município de Nova Venécia.
Por ainda não ter sido alvo de intensas pesquisas arqueológicas não é possível datar o início da presença humana na região. Apenas, podemos afirmar que grupos humanos já viviam por aqui há mais de 500 anos atrás, como atestam os dois únicos sítios arqueológicos catalogados até o presente momento, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em Nova Venécia, respectivamente o ES-EC Nº 01 e Nº 02 localizados no Córrego da Lagoa, próximos ao rio do Norte ou Cotaxé, nos quais foi encontrado material cerâmico.
Segundo fontes históricas, a presença dos índios aymoré ou botocudo, já era conhecida na região que hoje compreende nosso município, desde o século XVIII.

Desenho de uma "Família de índios Botocudo". Autor: príncipe Maximilian von Wied-Neuwied. Data: 1815-1817. Fonte: Brasilien Bibliothek Katalog Löschner 1988 V.1

Foram estes índios, em especial, a tribo dos GIPOROK (subdivisão dos botocudo) que travaram contato com os primeiros colonizadores no final do século XIX.

Em outra oportunidade trataremos de maneira mais detalhada deste povo ancestral que dominou estas terras por vários séculos.


Primeira Fase (1870-1888): O início da colonização e a fundação das fazendas de café sob o regime escravista

O território que hoje compreende o município de Nova Venécia pertencia ao antigo município de São Mateus, cuja criação remonta ao ano de 1764. Em 1833, desmembrando-se de São Mateus, foi criado o município de Barra de São Mateus, hoje Conceição da Barra. Foi deste que, o major da Guarda Nacional, Antônio Rodrigues da Cunha, se deslocou para a região do braço sul do rio São Mateus ou Cricaré, a fim de fundar um latifúndio para cultivo de cana-de-açúcar que recebeu o nome de Fazenda do Cachoeiro do Cravo no início da década de 1860.


Retrato pintado do major Antônio Rodrigues da Cunha com sua segunda esposa, Sra. Theodózia Vieira da Cunha. Acervo: Rogério F. Piva

Entre 1869-1870 o major Cunha, incumbiu o sr. José Gomes Paim da abertura de um picadão, que partindo da cidade de São Mateus, adentrasse pelo oeste e, atravessando a legendária Serra dos Aymorés, alcançasse o arraial de Santo Antônio do Peçanha, em Minas Gerais. O objetivo era a criação de uma rota de comércio que fizesse escoar, para o porto da cidade de São Mateus, toda produção do nordeste de Minas Gerais, ampliando ainda mais a importância desta cidade, que já era uma das mais importantes naquele período. Além disso, havia entre Peçanha e São Mateus algo que os mapas da época destacam como “grande sertão desconhecido habitado por indígenas” e que, já se sabia, eram terras férteis e ricas em madeira de lei.


Às margens desta pretensa estrada, que não passava de uma picada em meio a exuberante mata, o major Cunha iniciou a abertura de uma nova fazenda no ano de 1870. Ele a denominou de Fazenda da Serra dos Aymorés (local hoje conhecido como Serra de Baixo), aliás, designação com a qual, toda a região foi então nomeada.


O major Cunha mantinha relacionamento amistoso com os índios Giporok, dos quais, obteve auxílio na implantação da fazenda em troca de pequenos agrados.

Mas a principal mão-de-obra foi a de seus escravos africanos ou afro-descendentes que fizeram toda derrubada, ergueram todas as benfeitorias e plantaram os primeiros pés de café, que levaram São Mateus a se incluir no ciclo cafeeiro.

Negros Serradores de tábuas. Aquarela de Jean Baptiste Debret. Data: 1822. Fonte: O Brasil de Debret, Belo Horizonte : Vila Rica Editoras Reunidas, p. 40.
Por convite do major Antônio Cunha, seu irmão coronel Matheus Gomes da Cunha, que já possuía uma fazenda na Cachoeira do Inferno, um pouco acima da Cachoeira do Cravo, se desloca por volta de 1876 e abre a Fazenda da Boa Esperança (local hoje conhecido como Serra de Cima). Já em 1881 é a vez do seu cunhado, major José Gomes Sudré, fundar a Fazenda Independência, depois subdividida pelos filhos deste, entre Fazenda da Gruta, Fazenda Destino e Fazenda Terra Roxa.


Nesta época, o café era o grande produto de exportação que, levado por tropas de burros até o Cachoeiro do Cravo, seguia por meio de grandes canoas até o porto da cidade de São Mateus de onde, ganhava o mercado do Rio de Janeiro e depois da Europa.


Nesta fase registram-se as lutas pela liberdade do povo negro, das quais, nossa região também foi palco, como o drama da escrava Constância de Angola, na Fazenda da Boa Esperança, que, após ter seu filho brutalmente assassinado, se tornou uma guerreira quilombola no vale do Cricaré. Esta e outras histórias trataremos mais detalhadamente em outra ocasião.


O suor do negro fazia a riqueza que sustentava os grandes fazendeiros mateenses, dentre os quais, o major Antônio Cunha, que dotou sua fazenda com uma das sedes mais luxuosas da região.


Ruínas da casa-grande, sede da Fazenda da Serra dos Aymorés (atual localidade de Serra de Baixo), em 1981, quando se lutava pela sua preservação e ela era popularmente conhecida por "Casarão dos Escravos" devido a mão-de-obra utilizada na sua construção. Foto: Henrique Gobbi. Acervo: Rogério F. Piva
Construída entre 1870 e 1873, a casa-grande foi toda erguida com estrutura de madeira e paredes vedantes de taipa-de-mão ou estuque. Era coberta com telhas de barro estilo capa-canal e quase toda forrada com madeira no estilo saia-camisa. Possuía enormes salões e mais de dezesseis quartos e tinha quase cem metros de comprimento por treze de largura, além de mais de uma dezena de portas e janelas envidraçadas. Era servida de água encanada por meio de canos de chumbo que captavam a água na montanha situada ao fundo da edificação e a levava para um grande reservatório atrás da casa. Em uma das extremidades do casarão foi instalada uma máquina a vapor para pilar o café.

Era um verdadeiro palacete em meio a grande mata. Infelizmente, do Casarão dos Escravos, nome com o qual a casa-grande ficou conhecida entre décadas de 1970 e 1980, hoje ainda restam alguns vestígios arqueológicos: esteios de madeira e parte de uma mureta de pedra que sustentava os pilares de madeira da varanda da fachada frontal.

No ano de 1878 as fazendas do major e de seu irmão acolheram dezenas de migrantes nordestinos, sobretudo cearenses, que fugiam da maior seca que se abateu no nordeste, no século XIX, entre 1877-1880. Naquele ano (1878) o município de São Mateus foi o que mais recebeu retirantes e, o principal fazendeiro a acolhê-los, foi o major Antônio Cunha, que os levou para sua fazenda na Serra dos Aymorés.

Nesta primeira fase (1870-1888) o perfil que podemos traçar é que na região predominava os grandes latifúndios mantidos com mão-de-obra escrava e também livre, como a dos retirantes cearenses. A monocultura do café dominava a produção, mas sabemos que, em menor escala, havia o cultivo de cereais como o milho e a criação de gado.

Segundo seus descendentes, o major Cunha teria alforriado seus escravos antes da Lei de 13 de Maio de 1888 e com isso, não teria sofrido com a escassez de mão-de-obra.


Segunda Fase (1888-1922): Imigrantes e migrantes no Núcleo Colonial de Nova Venécia

O governo da antiga Província do Espírito Santo, prevendo o fim da escravidão, tratou de dotar os vales dos rios Itapemirim e São Mateus de Comissões de Medição de Terras. Tais comissões foram responsáveis pela criação de núcleos coloniais, cuja função, era atrair imigrantes europeus para essas regiões, onde se poderia “seduzi-los” para trabalharem nas fazendas.

Devemos compreender que neste momento, o preconceito dos antigos senhores, aliado à sede de liberdade dos ex-escravos, foram os principais fatores que levaram a crise da mão-de-obra que sobreveio nas fazendas. Muitos fazendeiros não admitiam o fato de tratar como empregados assalariados aqueles que haviam sido sua propriedade, presos como estavam à antiga mentalidade escravista. Por outro lado, muitos escravos, ao se verem livres, abandonavam as fazendas que tantas lembranças ruins lhes traziam.

Havia ainda a intenção do Governo Imperial que visava “embranquecer” a população com a introdução de imigrantes europeus. Nesta época, a maioria dos habitantes de São Mateus era negra.

Em 1888 foi criado o Núcleo Colonial de Santa Leocádia, situado, aproximadamente, a 23 km a oeste da cidade de São Mateus, às margens do córrego Bamburral e seus afluentes. A direção deste ficou a cargo do engenheiro Gabriel Emílio da Costa.

Em outubro de 1888 o núcleo recebeu a sua primeira leva de imigrantes italianos. Vieram no navio a vapor Ádria, de bandeira italiana. Este navio tinha a capacidade de transportar aproximadamente 1.500 passageiros por viagem. Era um dos mais velozes, percorrendo o trajeto Gênova a Vitória entre vinte e vinte e um dias. Esses imigrantes, chegando a Vitória, fizeram “quarentena” em uma hospedaria improvisada no centro da cidade, aguardando o navio Mathilde, de bandeira nacional, que fazia linha regular entre o Rio de Janeiro e o Sul da Bahia passando pelo Espírito Santo. O embarque no Mathilde se deu a 1º de outubro e, de Vitória, seguiram para o porto de São Mateus, onde desembarcaram dois ou três dias depois.

Eram 87 pessoas naturais das regiões da Lombardia e do Vêneto, norte da Itália, que, ao chegarem a São Mateus foram alojadas em um barracão atrás do cemitério da cidade. Grande deve ter sido a curiosidade tanto de italianos quanto de mateenses, devido ao contraste de culturas.

Todos os colonos deveriam prosseguir para Santa Leocádia. Ocorre que, por pressão dos fazendeiros junto ao presidente da Província, Dr. Henrique Moscoso, parte das famílias foi destinada às fazendas da região da Serra dos Aymorés.

Para a Fazenda da Serra dos Aymorés (Serra de Baixo), pertencente ao major Antônio Cunha, foram encaminhadas as famílias de: Giovanni BERTOLDI, Giovanni Battista CORADINI e da viúva Maria ZANFERRARI, num total de 13 pessoas. Para a Fazenda da Boa Esperança (Serra de Cima), do comendador Matheus Cunha foram as famílias de: Domenico SARTORI, Domenico BASSE, Domenico PERUZZI, Antonio ZANETTI e Angelo MANZANI totalizando 14 pessoas. Para a Fazenda da Terra Roxa, do Dr. Constante Sudré, foram as famílias de: Domenico BERNARDI, Domenico BIASI, Pietro PERONI, Paolo ZACHINELLI, Rafaele MORO e Pietro GALLINA, totalizando 12 pessoas. Para a Fazenda da Gruta, do Dr. Antônio Sudré, foram as famílias de: Luigi APRILE e Battista BENEVENUTTI, totalizando 04 pessoas.

Estes foram, portanto, os primeiros italianos a chegar à região do atual município de Nova Venécia no ano de 1888 e formavam um grupo de 43 pessoas.

Devido ao não cumprimento das promessas feitas pelos fazendeiros aos imigrantes, parte retirou-se para no Núcleo Santa Leocádia e outros, seguiram para Vitória a fim de alcançar novos destinos.

Além da abolição do trabalho escravo e da chegada dos primeiros imigrantes italianos, o ano de 1888 também foi marcado pela retomada da migração de retirantes nordestinos para São Mateus, dos quais, a primeira leva chegou àquele porto no início de dezembro e era composta principalmente por mulheres e crianças que fugiam dos horrores da seca no Ceará, a província mais afetada. Dentre os chefes de família que se estabeleceram entre 1888-1889 como meeiros ou diaristas nas fazendas da Serra dos Aymorés destacamos alguns como: Manoel ALVES DE OLIVEIRA, Joaquim FIRMINO DA COSTA, Vicente ALVES FEITOSA, Joaquim GALVÃO, Benedicto José de LIMA, José MARQUES DE SOUZA, Francisco José de FONTES, Francisco ELIAS DE SOUZA, Manoel LOURENÇO CARDOSO, Francisco PEREIRA DA SILVA, João LOURENÇO MELLO, João THIMOTHEO DO REGO, dentre muitos outros que se tornaram patriarcas de inúmeras famílias venecianas.

Em meio à chegada de retirantes nordestinos desembarcaram no início de janeiro de 1889, no porto de São Mateus, mais imigrantes italianos. Vindos numa segunda viagem do navio a vapor Ádria, estes, assim como os imigrantes da primeira leva, também eram destinados ao Núcleo Santa Leocádia, mas alguns deles se dirigiram para as fazendas da Serra dos Aymorés como os chefes: Pasquale MERLIN, Luigi PETTENE, Luigi GATTI, Carlo FLANGIN (hoje FRANGINI) e Angelo PIOMBIN, como suas respectivas famílias. Eram quase todas provenientes da Província de Verona e, no dia 17 de Janeiro de 1889, chegaram à fazenda do major Antônio Cunha. Desta mesma leva, algumas famílias ficaram na Fazenda Terra Roxa do Dr. Constante Sudré, das quais, lembramos das de Giovanni CAPUZZO (hoje CAPUCHO) e Romoaldo PASITTO. Ainda neste ano (1889), em março, também no Ádria, vieram para fazenda do major Antônio Cunha: Nicolò CADORIN (de Treviso), Francesco ROGIN, Ismaele ORTOLANI (de Pádova) e Pietro FACCIN (de Vicenza) com suas respectivas famílias.


Família do imigrante italiano Pietro MERLIN, no córrego da Areia, em 1945. Ele veio criança acompanhando os pais e irmãos, em 1889, para fazenda do major Cunha, depois agraciado com o título de Barão de Aymorés. Era natural da província de Verona, na região do Vêneto. Acervo: Família de Luiz Merlin.

A imigrante italiana Emilia CADORIN em meados da década de 1940. Veio com sua família em 1889 para fazenda do major Cunha, depois agraciado com o título de Barão de Aymorés. Era natural da província de Treviso, na região do Vêneto. Acervo: Rogério F. Piva


Foi também neste ano de 1889, há aproximadamente dois meses antes da Proclamação da República, que o major Antônio Rodrigues da Cunha foi agraciado com o título de BARÃO DE AYMORÉS, por ser o fazendeiro mais rico e de maior projeção política no norte do Espírito Santo, além do fato de ter contribuído bastante para o desbravamento do sertão de São Mateus.



Selo de Taxa Municipal com estampa do retrato do Barão de Aymorés. Foi instituído pela lei municipal nº 04 de 14/03/1955 "como homenagem aos grandes serviços prestados a este município na época da sua abertura e colonização". Acervo: Rogério F. Piva
Outro fazendeiro que teve grande destaque neste período foi um sobrinho do barão, que era proprietário da Fazenda Terra Roxa, o Dr. Constante Gomes Sudré. Ele chegou a ocupar o cargo de presidente (hoje governador) do Estado por duas vezes no final do século XIX.



Retrato do Dr. Constante Gomes Sudré existente na Galeria de Ex-Governadores do Palácio Anchieta em Vitória. Acervo: Governo do Estado do ES.
Em 1891 novas viagens do vapor Ádria trouxeram mais imigrantes para as fazendas da região da Serra dos Aymorés como as famílias de: Pasquale VALENTE, Beniamino CALONI (hoje CARLONI), Santo BAROLO, Francesco CAMPAGNOLA, Raimondo ROZZATI, Giovanni RIGHETTI, Antônio SCAMPARLE, Antonio BANZA, Luigi BOLDRIN, Simone BELLUZZO (hoje BELUCIO), Giovanni COPPO, Domenico DANIELETTO, Luigi FANTICELLI, Luigi MIOTTO, Giovanni Evangelista MIRANDOLA, Fortunato PRIOR, dentre outros.

Ao findar o ano de 1891 foram desembarcados em Vitória os imigrantes do vapor Birmânia, pertencente à mesma companhia de navegação que possuía o vapor Ádria e, assim como ele, com grande capacidade para o transporte de passageiros. Como nas outras levas, após “quarentena”, agora na recém-construída Hospedaria de Imigrantes da Pedra d’Água, na baía de Vitória, seguiram nos vapores nacionais Lucia e Mayrink para o porto de São Mateus de onde, um pequeno grupo, dirigiu-se para o Núcleo de Santa Leocádia e, a grande maioria, se destinou as fazendas da região de Serra dos Aymorés, como as famílias de: Giovanni LIVIO, Pietro DELLAVEDOVA (hoje DELEVEDOVE), Eugenio OLIVIERI, Luigi FRIZIERO (hoje FRIGERIO), Davide MAZARIN, Antonio ZANON, Francesco Antonio CAPELLETO, Luigi VIDOTTO, Natale GASPARINI, Beniamino BERCAVELLO, Pietro PACCAGNAN, Giulio BRAIDA, Antonio BIRAL, Marco CEBIN, Giovanni PUTTIN, Angelo CONTARATTO, Giuseppe FONTANA, Angelo CALATRONI, Antonio BUSATTO, Andrea MACCARINI, Lodovico LAVAGNOLI, Francesco FERRUGIN, Luigi SABADINI, Pasquale CIAROTTO (hoje CHEROTTO), Francesco MESTRINELLI, Luigi SELVATICO, Luigi MILLERI, Antonio BONOMETTI, Antonio VECCHIATTO, Antonio BOA, Filippo MONARIN, Cristiano Antonio BONOMO, Osvaldo BETTIN, Angelo BRAGAGNOLO e Luigi PIEROBON (hoje PEDRO BOM). Estas famílias, em sua maioria, eram procedentes das províncias de Padova, Verona e Treviso, na região do Vêneto.

Até o ano de 1892, todos imigrantes estabelecidos na região da Serra dos Aymorés, que atualmente compreende o nosso município, se empregavam nas fazendas de café como meeiros e/ou diaristas. Foi neste mesmo ano (1892) que um sobrinho do Barão de Aymorés, chamado Dr. Antônio dos Santos Neves, já a frente da direção do Núcleo de Santa Leocádia, criou o Núcleo Colonial de NOVA VENÉCIA.

Primeiramente, projetou-se uma nova “seção” para o Núcleo Santa Leocádia, mas devido à extensão desta nova seção e a distância para com a sede do mesmo, ela acabou tornando-se núcleo, cujo nome, dado por ele, fazia alusão à região do Vêneto, que tem por capital a cidade de Venezia (Veneza para os brasileiros). Diga-se de passagem, a maioria dos imigrantes chegados até aquele momento, era da Região do Vêneto.

O novo núcleo se subdividia em várias seções que acompanhavam o curso do rio Cricaré ou de seus afluentes como: Seção Rio Preto (onde se estabeleceram os imigrantes anteriormente chegados as Fazendas da Terra Roxa, Gruta e Destino), Seção Córrego da Serra (que recebeu os imigrantes da fazenda do Barão de Aymorés), Seção Pip-Nuk (onde predominavam imigrantes da fazenda do coronel e comendador Matheus Cunha). Havia ainda as seções de Córrego Aguirre e Rio São Mateus abaixo (da sede do núcleo). Observa-se que, apesar da forte presença de italianos, haviam muitos lotes ocupados por brasileiros. Inclusive, subindo rio acima, no córrego da Boa Esperança, a ocupação não foi feita pelo governo, mas pelos próprios colonos que eram quase todos nordestinos.

A sede do Núcleo Colonial de Nova Venécia foi estabelecida no alto do morro próximo a foz do córrego da Serra (hoje morro da igreja matriz de São Marcos), onde foi construído um barracão para albergar, provisoriamente, as famílias recém-chegadas. Este barracão ficava onde hoje se encontra o Laboratório do Dr. Vicente. E foi por causa dele que a vila, depois, cidade de Nova Venécia foi conhecida por BARRACÃO pelos antigos.

Entre 1892 e 1895 ainda chegaram as famílias de Alessandro FABEN, Clemente CEGLIA, Pellegrino ROMANO, Domenico TAGLIAFERRI, Nicola DE FRESCO, Aldo MARANI, Giuseppe DIONI (hoje DENONI), Pietro ROSA, Giovanni PANZERI e seu irmão Silvestre PANZERI (hoje PANCIERE), Antonio FRIGERIO, Francesco TENTORE, Giosuè AIROLDI, Caetano REDAELLI, Antonio CESANA, Andrea FUGOLIN, Antonio VISNARA, Gioachino COLOMBO, Eugenio SANDRE, Giovanni Battista VIDA, Carlo CEREDA e Andrea LEONARDI, dentre outros.

Em escala muito reduzida houve a vinda de imigrantes portugueses e espanhóis neste mesmo período, mas destes, muitos acabaram por deixar a região.

Ainda em fins do século XIX e início do século XX houve a chegada de mais famílias oriundas de São Mateus, como a do capitão José Antonio CARDOSO e seu filho Salvador CARDOSO, Matheus TOSCANO, José VILA NOVA e dos irmãos Leopoldo e Ernesto AYRES FARIAS. Também muitos migrantes mineiros e baianos devido à proximidade com nossa região vieram para cá como: Manoel FERREIRA DA ROCHA, Francisco Luiz DE SÁ, Chrispiniano MARINHO DE AZEVEDO, Clarindo PACHECO ROLIM, José PEREIRA DAS NEVES, Maximiniano RODRIGUES DO NASCIMENTO e seu sobrinho Claudiano RODRIGUES DO NASCIMENTO dentre muitos outros.

Em 1896 houve o reconhecimento oficial da região da Serra dos Aymorés, que passou a ser considerada como distrito do município de São Mateus, porém, somente em 1899 começou a funcionar, efetivamente, um cartório de registro civil na região. Retificado por ato municipal de São Mateus em 1902, o segundo distrito chamou-se Serra dos Aymorés até o início da década de 1920, quando teve o nome mudado para Nova Venécia, por força do núcleo, que abrigava em seu território desde 1892.

Infelizmente, quanto mais povoada de colonos era a região, mais rápida se tornava a extinção dos indígenas que habitavam o vale. Inúmeros conflitos foram travados entre os grandes fazendeiros e pequenos proprietários com os índios Giporok. O mais violento deles ocorreu na região da Fazenda Santa Rita, de propriedade do Dr. Antônio dos Santos Neves, onde o lendário capitão Pip-Nuk teria errado o alvo e, ao invés de acertar uma flechada mortal no “Antunico Neves”, acabou acertando a Eleosippo Rodrigues da Cunha, filho do Barão de Aymorés que, nesta época (1903), já havia falecido há 10 anos.

"LoLô", apelido pelo qual Eleosippo era conhecido, ficou entre a vida e a morte, mas conseguiu sobreviver e, assim como seu pai, se tornou um dos homens mais poderosos da região.
Melhor sorte não coube aos índios que, após o ataque, sofreram violenta retaliação por parte dos fazendeiros.
Também, em meio aos italianos, o choque de culturas era sentido por colonos que tinham suas terras “invadidas” ou mesmo seus filhos “seqüestrados” como o caso do filho do italiano Silvestre Panzeri (hoje Panciere). Os índios eram nômades, portanto, acostumados a perambular por toda região. Não entendiam porque agora, existiam cercas e porque, ao avistarem um milharal, não poderiam livremente saciar a fome, o que acabava gerando conflitos.


Índio da tribo dos Krenak à espreita na mata. Os Krenak formavam uma tribo como a dos Giporok, ambas pertencentes à grande nação botocudo. Fonte: APEES-BRD-011- Índios Botocudos do Rio Doce. Local: Barra do rio Pancas, entre Colatina e Barbados, em 1909. Fotógrafo Walter Garber
Por volta de 1910, com a criação do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), órgão federal, instalou-se um posto indígena no vale do rio São Mateus. O Posto Aymorés foi criado para aldear os Giporok e assim, pacificar a região. Ficava às margens do rio Cricaré ou braço sul do rio São Mateus, na margem norte, aos pés da Pedra da Rapadura, no lado oposto ao local onde hoje existe o povoado de Luzilândia.

Misteriosamente, houve uma epidemia de varíola, em 1912, que acabou por aniquilar a tribo. Agora o caminho estava “livre” para a marcha da colonização que, após engolir os antigos habitantes da terra, iria avançar de maneira feroz e destruidora sobre a fauna e flora do vale do rio São Mateus.

Antes, porém, foi preciso romper a barreira do isolamento e tornar mais acessível a longínqua Serra dos Aymorés que, a este tempo, além de grandes latifúndios, possuía centenas de lotes coloniais ocupados por imigrantes italianos e migrantes brasileiros que haviam chegado a esta terra em busca de dias melhores.


Terceira Fase (1922-1953): A Estrada de Ferro São Matheus e o desenvolvimento da Vila de Nova Venécia
Em 1924 o Governo do Estado deu início às obras para construção de uma ponte de madeira com pilares de pedra, sobre o braço sul do rio São Mateus, no lugar Nova Venécia.
A antiga sede do núcleo colonial, até aquele momento, não passava de um insipiente povoado, com algumas casas concentradas no entorno do morro que hoje conhecemos como da matriz de São Marcos.

Como vimos, desde o final do século XIX, à beira do rio, estava a sede do núcleo colonial, e também do distrito de Serra dos Aymorés. Mas, neste tempo, não havia sequer projeção de uma vida urbana na vila então nascente, pois, mesmo os que ali moravam, levavam uma vida tipicamente rural.

Às margens do rio Cricaré, na Cachoeira Grande, próximo à foz do Córrego da Serra, um filho do Barão de Aymorés, chamado Wantuyl Cunha, montou um engenho para pilar café e arroz, movido com a força das águas do rio, que recebeu ali uma rústica barragem.

Das poucas casas que havia no morro destacamos a do Sr. Salvador Cardoso, homem de grande influência no passado veneciano. Ele era juiz de paz e sacramentava as cerimônias civis em sua residência, além de ter sido vereador, em São Mateus, pelo distrito. Diante de sua casa, em 1915, plantou um pé de manga coco, em homenagem ao nascimento do seu filho Romeu Cardoso. Surpreendentemente, hoje (2009), tanto a casa quanto a mangueira ainda existem e testemunham o início bucólico da nossa cidade.


Vista da Rua Salvador Cardoso, no centro da cidade de Nova Venécia, quando ainda se chamava Rua João Pessoa, em fins da década de 1950. A quase centenária mangueira ao centro do logradouro, que neste tempo, ainda não possuia pavimentação, mas ostentava todo seu casario. É a rua mais antiga de Nova Venécia, onde ainda existe a casa mais antiga do centro da cidade que pertenceu àquele que hoje dá nome a mesma. Fonte: Enciclopédia do Municípios Brasileiros, vol. XXII, IBGE, 1959.
Em fins de 1925 ficou pronta a nova ponte, que significou mais facilidade para colonizar as terras ao norte, notoriamente as regiões dos córregos da Areia, Refrigério, Água Bela, dentre outros.

Neste mesmo ano (1925), por um equívoco, chega da Itália um presente do governo fascista de Mussolini. Solicitada por um adido cultural da Itália na colônia de Nova Veneza, em Santa Catariana, veio uma escultura em alto relevo de bronze do Leão Alado de São Marcos. Como não havia muita especificação no endereço, ao chegar ao porto de Vitória, foi logo remetida para São Mateus, de onde seguiu para vila, que a recebeu com grande festa.

Mas aqui não havia sequer capela de São Marcos, e então a imagem ficou na capela de Santo Antônio do Córrego da Serra até 1932, quando, o Sr. Guilherme PEREIRA LIMA, por devoção, construiu a primeira capela da vila dedicada ao Nosso Senhor do Bonfim.

O Sr. Guilherme Pereira Lima, chegou a Nova Venécia, ou melhor, Barracão, como então se dizia, atuando como exterminador de formigas e depois fez fortuna. Assim como ele, um alagoano, Sr. Waldemar de OLIVEIRA e o baiano, Sr. Zenor PEDROZA ROCHA, além de sírio-libaneses como as famílias DAHER, ABRAÃO, CARAN, BOECHAT, RODOR, ZOGAIB e um grego chamado Manoel PAPAZANAK para cá vieram, e por quê?

Talvez seja porque a região demonstrasse ter um futuro promissor. Tanto isso se fazia sentir que, em 1922, o Governo de Nestor Gomes, resolveu investir na construção da antiga Estrada de Ferro Serra dos Aymorés, projetada inicialmente em 1896. Agora com o pomposo nome de Estrada de Ferro São Matheus, o antigo projeto viu sua efetivação.

A construção foi feita em etapas e demorou de 1922 a 1929, quando então, no governo de Aristeu Borges de Aguiar, foi inaugurada a Estação de Nova Venécia.


A Locomotiva da "Estrada de Ferro São Matheus" transportando em seus vagões enormes toras madeira de lei da Vila de Nova Venécia para o porto da Cidade de São Mateus, no início da década de 1940. Acervo: Rogério F. Piva
A insipiente ferrovia teve vida curta. Por ser de bitola estreita foi desativada por volta de 1942.

Mas já era tarde de mais, a região já havia tomado o impulso necessário para concluir o processo de colonização. O ciclo madeireiro também havia começado a sua devastação e o que não virasse cafezal, se tornaria pasto. Nem a crise mundial de 1929 pôde impedir o desenvolvimento do lugar, que agora já recebia filhos e netos de imigrantes que haviam povoado o centro e sul do estado, notoriamente a região que abrange os atuais municípios de Castelo, Venda Nova do Imigrante, Alfredo Chaves, Domingos Martins, Santa Teresa, dentre outros, e que estavam à procura de novas terras. Famílias como SALVADOR, TOSI, SENNA e muitas outras, começam a chegar do sul do estado nessa época.

A euforia da década de 1920 foi tão intensa que levou um negociante italiano, chamado Battista PERLETTI, a se estabelecer em Nova Venécia. Em 1925 ele adquiriu um pedaço de terra na vila, próximo à foz do córrego Dourado, e ali fez construir uma edificação, com grossas paredes de pedras expostas, que contrastava com todas as edificações existentes na vila. Importou uma máquina a vapor e montou uma casa de pilar café com essa força motriz. Infelizmente, problemas de saúde e a própria crise financeira puseram fim ao seu sonho. Doente e viúvo, retornou com seu único filho para Itália.


Casa de Pedra do Perletti no centro de Nova Venécia, onde foi instalada uma máquina-a-vapor para pilar café em meados da década de 1920, ainda ostentando suas características originais no ano de 1993. Foto Cilmar Franceschetto. Acervo: Rogério F. Piva

A partir da década de 1930 com o avanço das frentes de colonização, no norte do Espírito Santo, terá início outro episódio sangrento de nosso passado, que ficou conhecido como CONTESTADO.

O município de São Mateus fazia limite, no oeste, com estado de Minas Gerais e, a essa altura, os mineiros que, como vimos já eram presença constante, em Nova Venécia, desde o século XIX, avançavam com a sua fronteira para dentro do território capixaba que, aliás, estava sendo desbravado por eles.

Com o intuito de frear as expectativas mineiras, o Governo do Espírito Santo iniciou a colonização da região de Barra de São Francisco que representou um posto avançado capixaba na, até então, indefinida fronteira com Minas Gerais.

Em 1938 criou uma paróquia em Barra de São Francisco e para lá mandou o padre Lauro Zacarias de Oliveira que, por existirem mais fiéis em Nova Venécia do que lá, acabou permanecendo por aqui. Essa permanência durou 10 anos, até que assumisse seu posto em Barra de São Francisco. Enquanto isso, o padre Zacarias, construiu, com a ajuda da população, a capela dedicada a São Marcos, concluída entre 1942-43.


Vista parcial do centro da Vila de Nova Venécia no início da década de 1940. A primeira igreja de São Marcos ostenta telhado novo, mas ainda não havia sido concluída, enquanto que a região da atual praça Jones dos Santos Neves não havia recebido nenhuma edificação até aquele momento. Acervo: Rogério F. Piva
Por volta de 1927 mineiros se estabeleceram na região de pau d’Alho, depois conhecida por Guararema, e iniciaram a colonização daquela região, onde o grosso dos colonos que ali se estabeleceram, vieram do sul e centro do estado. Até a década de 1960, quando se firmou o acordo de limites entre Minas Gerais e o Espírito Santo, parte do distrito de Guararema era considerada zona litigiosa de pretensão mineira.

Com a criação do município de Barra de São Francisco, em 1943, foi dado decisivo passo na conquista capixaba do território.

Enquanto isso, nas levas de colonos do sul e centro do estado que chegavam à Nova Venécia, em meados da década de 1940, vieram os descendentes de alemães e pomeranos (povos de origem germânica) que provinham de municípios como Santa Leopoldina, Domingos Martins, Afonso Cláudio, Itaguaçu, Baixo Guandú dentre outros e que, colonizaram principalmente as regiões de Guararema, Santo Antônio do XV e Córrego Grande. Esta última que atualmente constitui o município de Vila Pavão, emancipado de Nova Venécia em 1990. Das famílias com sobrenomes germânicos (alemães e pomeranos), poloneses e italianos, dentre outros, que começam a chegar a partir desta época destacamos: SCHNEIDER, HOFFMANN, PAGUNG, BRAUN, KLIPPEL, JANN, TESCH, EWALDT, KÜSTER, AHNERT, KRAUSE, JAKOB, KRÜGER, WUTKE, TRESSMANN, REETZ, SCHIMIDT, SMED, RAMLOW, BERGER, SCHWAMBACH, TRAMS, PITTELKOW, SCHREIBER, PETERS, KLES, JASTROU, BADELT, WILL, MAJEWSKI, DOBROWOSKI, BETTERO, BERGAMIN, FRANCESCHETTO, CALVI, CESCONETTO, MANTOVANELLI, GRILLO, BIS, CAMPO DALL’ORTO, ALTOÈ, SCABELLO, MORGAN, DE PRÁ, TURINI, MORESCHI, MARCHESINI, GAZOLLI, GAVA, CALEGARI, PILON, CAMATTA, DE ANGELO, CHECON, SECHIN, OLIOSI, SCARDINI, ZANOTTI, ZIVIANI, ZACCHÈ, ZUCOLOTTO, ZAMPROGNO, ULIANA, FERRARI, SALVADOR, SPEROTTO, FONTANA, GUIDI, COLI, TOSI e muitas outras, além das de origem afro-luso-indígena (principalmente mineiras e baianas) que continuaram a chegar até o final do século XX.
Muito contribuiu para vinda destes novos pioneiros a conclusão, em 1947, da estrada que ligou Nova Venécia a Colatina. A Rodovia do Café, como hoje é conhecida, encerrou o período de hegemonia mateense sobre a Vila de Nova Venécia, tendo em vista que, a partir de então, a produção poderia ser comercializada no mercado de Colatina.
Por volta de 1953 surgiu um movimento, em prol da emancipação política do distrito de Nova Venécia. Naquela época o distrito já superava o da sede de São Mateus em termos demográficos. Vários vereadores da câmara de São Mateus eram eleitos pelo distrito de Nova Venécia como os que atuavam naquele mandato como: Tito Santos Neves, Dacílio Duarte Santos, Antônio de Carvalho e o próprio prefeito de São Mateus que era Zenor Pedroza Rocha, primeiro farmacêutico a se estabelecer em Nova Venécia em meados da década de 1920. Um abaixo-assinado, com mais de duzentas assinaturas, deflagrou o processo que culminou com a aprovação da Lei Municipal Nº 329 de 28 de Agosto de 1953 que criou o município de Nova Venécia e que foi ratificada pela Lei Estadual Nº 767 de 11 de Dezembro daquele ano. Portanto, há 57 anos que serão completados no próximo dia 11 de Dezembro.
Como o dia do padroeiro São Marcos era comemorado anualmente, pela Igreja Católica, no dia 25 de abril, com grande festa, muito concorrida na vila e depois cidade de Nova Venécia, convencionou-se o dia 24 de abril como o dia da cidade.
O que aconteceu com Nova Venécia a partir de então? Bem, isto é uma outra História.



*Rogério Frigerio Piva é natural de Nova Venécia. Historiador graduado pela Universidade Federal do Espírito Santo. Pesquisa sobre a História de Nova Venécia desde 1992. Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. Trabalhou por 10 anos no Arquivo Público do Estado do Espírito Santo onde ocupou diversos cargos. Atualmente é Professor de História e Filosofia do Centro Educacional Evolução.



Nota: O presente artigo, com alguns pequenos cortes devido ao espaço de editoração, foi publicado às páginas 08 e 09 do jornal "Folha do Estado", edição nº 1034, de 24/04/2009.

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