terça-feira, 5 de abril de 2011

As origens do Bairro “Padre Gianni Bartesaghi” (1997-2000)

Aspecto do bairro Padre Gianni por volta do ano 2000. Foto impressa na revista "NOVA VENÉCIA 800 OBRAS: órgão informativo da Prefeitura Municipal de Nova Venécia-ES", pág. 11.


Por Rogério Frigerio Piva*


Houve um tempo em que o terreno onde se localiza o bairro “Padre Gianni”, como é popularmente conhecido, já serviu de aterro sanitário (lixão municipal). Foi no ano de 1991 quando o ex-prefeito de Nova Venécia, Walter De Prá, cumprindo o disposto na Lei Orgânica de Nova Venécia, transferiu para o local, o antigo lixão que se localizava as margens do rio Cricaré, em terreno impróprio, nas imediações do Ginásio Poli Esportivo, em local oposto ao de captação de água da estação de tratamento da CESAN. Naquela época, o terreno escolhido, medindo 148.410 m2, situado na localidade de “Córrego Bonfim”, encontrava-se fora do perímetro urbano da cidade de Nova Venécia.

Somente em 1997, na administração do ex-prefeito Francisco Diomar Forza, o aterro sanitário-lixão deixou de funcionar naquele local, sendo transferido para onde se encontra atualmente, às margens da Rodovia Nova Venécia-Vila Pavão. Por meio da Lei 2.204 de 11 de Julho de 1997 se oficializou a mudança de função do terreno que, a partir daquele ato legal, destinou-se a construção de unidades habitacionais.

O loteamento projetado foi denominado provisoriamente de “Bairro Municipal IV”, no qual, as casas populares começaram a ser edificadas. Ainda em 1997, por meio da Lei 2.217 de 24 de setembro, o novo bairro recebeu o nome de “Padre Gianni Bartesaghi”, homenagem a um italiano, missionário comboniano, que foi pároco entre 1978-1983, em Nova Venécia, e que, como seu último desejo, escolheu ser sepultado na cidade em 1991. Chamamos a atenção para destacar o incentivo do padre Gianni ao desenvolvimento da comunidade Ascensão do Senhor, cuja igreja, fôra construída com auxílio da paróquia de São Marcos, entre 1979-1981, no que foi o primeiro bairro de casas populares de Nova Venécia, o bairro COHAB, hoje conhecido pelo povo como: bairro Ascensão. Ironicamente, o saudoso padre Gianni, faleceu no mesmo ano em que, o terreno, onde mais tarde ergueu-se o bairro com seu nome, foi transformado em lixão municipal.



O padre Gianni Bartesaghi nasceu na Itália em 05/02/1929 e faleceu em 19/01/1991, sendo sepultado no Cemitério Senhor do Bonfim e, anos depois, seus restos foram transladados para o Mausoléu dos Combonianos no Cemitério São Marcos. Reprografia de foto em porcelana feita por Rogério Frigerio Piva, 20/03/2010.


Conforme Kim Campos, em artigo publicado na revista “Memória Legislativa: Edição comemorativa do cinqüentenário de Nova Venécia-ES”, no ano de 2004, à página 07, ao falar das ações realizadas pelo padre comboniano Bruno Tonolli, à frente da paróquia de São Marcos, entre 1996 e 2002, destaca que “(...) em dezembro do mesmo ano [1997] inaugurou 40 casas populares no bairro padre Gianni Bartesaghi, sendo 10 feitas pela prefeitura e 30 pela Paróquia.” Segundo esta informação sabemos que, apesar do conjunto habitacional do bairro Padre Gianni ter sido um empreendimento da administração municipal, contou também com recursos da Igreja Católica no seu início. Desta forma, fica registrado que desde dezembro de 1997, as primeiras unidades habitacionais, num total de 40, já estavam prontas, a ponto de serem solenemente inauguradas pelo pároco de então, padre Bruno Tonolli.

Em 16 de dezembro de 1998, por meio da Lei 2.303, o conjunto habitacional teve oficializados os nomes de sua avenida e quatro ruas, que receberam, respectivamente, os nomes de: Avenida André Forza, Rua Alexandre Caliman, Rua Alderico Moreschi, Rua Antonia Maria Gonçalves e Rua Josefina Casa Grande Francischetto.


Aspecto de casas populares no bairro Padre Gianni por volta do ano 2000. Foto impressa na revista "NOVA VENÉCIA 800 OBRAS: órgão informativo da Prefeitura Municipal de Nova Venécia-ES", pág. 10.

Na revista intitulada “NOVA VENÉCIA: 800 OBRAS”, órgão informativo da Prefeitura de Nova Venécia-ES, publicada pelo Setor de Comunicação Social da Prefeitura de Nova Venécia em 2000, à página 04, sob o título “Moradia é uma realidade” encontramos as seguintes informações sobre o bairro que nascia:


Em pouco mais de três anos a atual administração construiu 127 casas para famílias de baixa renda (...), dando assim moradia digna para muita gente que não tinha onde morar.

A Prefeitura criou um novo bairro de casas populares, chamado Padre Gianni. O bairro está muito bem estruturado, com água, energia e rede sanitária. Foi o primeiro bairro de Nova Venécia a receber esgoto tratado, começando a acabar assim com a poluição do Rio Cricaré.

As casas construídas pela Prefeitura têm dois quartos, sala, cozinha e banheiro.


Além da citação que transcrevemos na íntegra, a publicação de 20 páginas, trazia estampadas cerca de cinco fotos coloridas mostrado aspectos das novas casas edificadas. E como, na realidade, era um catálogo das “ditas” 800 obras realizadas ou iniciadas na gestão do ex-prefeito Francisco Diomar Forza (1997-2000), foi publicada também na revista, a relação das famílias beneficiadas que receberam as 123 casas populares, o que entra em conflito com a informação da já citada página 4, onde, citam 127 unidades. Supomos que talvez as quatro unidades citadas além das 123 entregues, tenham ficado prontas, mas não haviam sido entregues até o momento daquela publicação.


Aspecto de casas populares no bairro Padre Gianni por volta do ano 2000. Foto impressa na revista "NOVA VENÉCIA 800 OBRAS: órgão informativo da Prefeitura Municipal de Nova Venécia-ES", pág. 04.


Para que não se perca sua memória, transcreveremos abaixo os nomes dos(as) pioneiros(as) do bairro Padre Gianni que encontramos registrados nas páginas 10 e 11 da revista:


01. Beatriz Marques de Barcellos

02. Cenira Francisca Silva

03. Conceição Ap. Neves Oliveira

04. Devanir Fonseca

05. Ediana Dias da Silva Ramos

06. Edinalva dos Santos Manoel

07. Edma Lopes de Carvalho

08. Enivalda Pereira dos Reis

09. Euzineia Atanazio de Oliveira

10. Geralda Genuária Rosa

11. Inez Ribeiro Siqueira

12. Ireni Giacomini dos Santos

13. José Anacleto Correia

14. José Carlos Martins

15. Lucia Fabem da Silva

16. Mª das Graças B. Carvalho

17. Maria A. Correa Braz

18. Maria Alves Matos

19. Maria Antonia

20. Maria Ap. Alves de Souza

21. Maria da Penha Marques

22. Maria da Penha Pereira

23. Maria da Penha Pereira

24. Maria Dajuda dos Santos

25. Maria Helena P. de Andrade

26. Maria Margarida de Jesus

27. Maria Rodrigues Pena

28. Marilza Neves Alves

29. Marina de Oliveira

30. Natalina Ferrari Ferreira

31. Natanael Furtado Venturin

32. Nilda da Silva

33. Odila Bento de Lima

34. Quitéria Ferreira da Silva

35. Raimundo Pinto da Silva

36. Roque Batista Matos

37. Rosa Gomes da Mota

38. Rosalina Chaefer Vinturino

39. Sandra Puttin Teodoro

40. Sônia Maria Nunes Ortelan

41. Sônia Mendes Farias

42. Valdir Felberg

43. Vanilda da Conceição

44. Vanuza Vilella

45. Vilma de Almeida dos Santos

46. Zilma Gonçalves de Almeida

47. Alzenira T. da Conceição

48. Ana Cristina Giacomini Alberto

49. Anderson Barollo Pires

50. Aparecida Rosa



Cadastramento de moradores para o bairro Padre Gianni entre 1997-2000. Foto impressa na revista "NOVA VENÉCIA 800 OBRAS: órgão informativo da Prefeitura Municipal de Nova Venécia-ES", pág. 10.


51. Mirian Dias Cândido

52. Célia Maria dos Santos

53. Cenira Pereira

54. Dativo Martins Dias

55. Edson Timoteo

56. Elenildes Correia

57. Elizabeth Matias dos Santos

58. Feliziana da Silva Macedo

59. Ilma A. Cardoso dos Santos

60. João Ferreira de Oliveira

61. Joaquim Benedito Filadelfia

62. José Marcos da Silva Santos

63. Kátia Rocha Santana

64. Laurides Fonseca Silva (Bira)

65. Leide Batista da Silva

66. Luzia Cheroto

67. Maria de Fátima Souza Barbosa

68. Maria de Fátima Moreira

69. Maura Fanticelli Pereira

70. Neide Maria Alves

71. Paulo Reges Pandolfi

72. Pedro C. dos Santos

73. Pedro Salvador

74. Regiane dos Santos

75. Rosa Aurea R. de Souza

76. Rosalina de Oliveira

77. Rosemeri de Souza Machado

78. Santa Marinho da Silva

79. Sebastião Rodrigues Medina

80. Silvana Lima de Almeida

81. Vanuza Venâncio Procópio

82. Vicenti de Paula da Silva

83. Zenilda da Penha Santos

84. Zildete P. L. dos Santos

85. Zuleide Morais Machado

86. Alzira F. dos Santos

87. Ana Maria de Oliveira Palácio

88. Angela Maria Elias

89. Antonia Alves dos Santos

90. Aparecida Alves da Silva

91. Beatriz Machado Correia

92. Brás Alves de Oliveira

93. Celina dos Santos Cunha

94. Clemilda Batista da Silva

95. Eliane Oliveira Gomes

96. Ivanete Cesarina

97. João Ferreira dos Santos

98. Júlia Márcia Fernandes

99. Juscelino O. dos Santos

100. Luiza Gomes de Almeida

101. Luzinete Pereira da Silva

102. Manoel Batista Nascimento

103. Maria da Penha A. Oliveira

104. Maria da S. Lisboa Fernandes

105. Maria das Graças A. Pereira

106. Maria de Fátima J. Barreto

107. Maria Djanira R. Amaral

108. Maria Eloisa Fran. Fonseca

109. Maria Eunice dos Santos

110. Maria Rosa de Jesus

111. Marta Zanon Puttin

112. Moaci Soares Benedito

113. Nair B. Filadelfia Sena

114. Nair Teixeira dos Santos

115. Natalino Pimenta

116. Neuza Thomé Gomes

117. Odete Pereira dos Santos

118. Reinaldo Rodrigues Pinas

119. Rosalina V. Nascimento

120. Solange Gomes da Silva

121. Valci Pereira dos Santos

122. Walmir de Araújo Santana

123. Zenilda da Penha dos Santos


Na relação publicada na revista a numeração inicia em 522 e termina em 644, tendo em vista que cada unidade habitacional foi considerada uma das “800 obras” realizadas por aquela administração. Chamamos a atenção para observar que a grande maioria dos chefes das famílias listadas, na relação acima, é de mulheres.

Também encontramos à página 13 da mesma publicação uma "Relação de Obras por Bairros", onde, no Bairro Padre “Gianne” são destacadas: “1- Construção de 144 casas populares; 2 – Construção de rede de tratamento de esgoto; 3 – Construção de energia elétrica; Instalação de telefone/água”. Mais uma vez observamos o número de unidades oscilando de 123 para 144. E questionamos: será que no cálculo estão incluídas as 30 casas construídas com recursos da Igreja Católica? Somente os documentos da administração municipal poderão dar uma precisão a esta informação, o que demandará uma pesquisa mais detalhada.


Aspecto de casas populares no bairro Padre Gianni por volta do ano 2000. Foto impressa na revista "NOVA VENÉCIA 800 OBRAS: órgão informativo da Prefeitura Municipal de Nova Venécia-ES", pág. 01.

Essas escassas notícias que colhemos aqui e acolá, de um bairro relativamente novo na paisagem urbana de Nova Venécia, como o “Padre Gianni”, servem de exemplo para mostrar que, mesmo o nosso passado mais recente, tem muita história prá contar, o que denuncia a falta que faz ao município um Arquivo Público Municipal que poderia e deveria evitar a perda dos registros de nosso passado.


Neste ano de 2011, o bairro “Padre Gianni Bartesaghi” está completando seu 14º aniversário. Surgiu como solução habitacional para atender às famílias carentes de Nova Venécia. Para aquelas famílias que tiveram, no bairro, a realização do sonho da casa própria, hoje, ainda resta lutar pela melhoria da infra-estrutura urbana e assim, poder usufruir de uma verdadeira qualidade de vida.



*Rogério Frigerio Piva é natural de Nova Venécia. Historiador graduado pela Universidade Federal do Espírito Santo. Pesquisa sobre a História de Nova Venécia desde 1992. Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. Trabalhou por 10 anos no Arquivo Público do Estado do Espírito Santo onde ocupou diversos cargos. Atualmente é Professor de História da Escola Municipal de Ensino Fundamental Tito dos Santos Neves. Desde 2008 mantém o blog: Projeto Pip-Nuk, com vasto material sobre a História e o Patrimônio Natural e Cultural Nova Venécia: http://www.projetopipnuk.blogspot.com/

4 comentários:

Morena Alta disse...

Gostaria de parabenizar por essa volta ao passado e pelos ricos detalhes... Estava pesquisando na internet sobre o bairro e gostaria de deixa um comentário, um desabafo, um pedido de socorro.
Não vi apenas um detalhe: que essas casas não tem documentação e é dono queme stiver morando. Quem vende faz um contrato de gaveta e se algum dono deixar a casa vazia e algu´em invadir, o dono não teria diretito a reclamar.
Minha avó acabou trocando um lote no bairro Iolanda (com toda a documentação) por umas dessas casinhas do bairro Padre Gianni pq a antiga dona não ia ocupar a casa e antes que a perdesse para algum invasor ela preferiu trocar num bem sem riscos de perder. Assim no ano de 2005 minha avó foi morar no bairro e estava muito feliz pq finalmente teria sua casa própria e até fez algumas benfeitorias como reboco, varanda e cerca. Só que de uns tempos para cá a casa dela está cedendo. Tem várias rachadoras pela casa, parte dde piso esta ficando oco e ja tem buracos pelo quintal. Cada dia q passa, a medidad que a terra vai cedendo a casa vai aparecendo mais e mais rachaduras. MInha avó fica desesperada e se antes morava sozinha e tinha saúde agora não pode ficar sozinha, não consegue dormir, se alimentar direito. Cada vez que dá um vento mais forte ou uma chuva, minha avo sai de casa e fica no quintal nervosa, chorando e esbravejando. Essa siturção tem prejudicado a saúde de minha avó pq devido aos transtornos ela tem tido picos de pressão alta e já teve 2 derrames e no último ficou com uma sequela na perna e agora só anda puxando de uma perna e com muita dificuldade.
A secretaria de assistência social já está ciente da situação dela pois por inúmeras vezes minha avó esteve lá. Queremos que a prefeitura se responsabilize porque não é só a casa de minha avó que está passando por esses probleemas. Em várias casas há rachaduras e a prefeitura assumiu o risco quando construiu casas populares em um antigo lixão.
No caso de minha avó, não é justo que ela viva seus últimos anos de vida e esperamos que sejam muitos numa casa afundando. Não é justo que uma senhora que tinha saíde hoje sofra com hipertensão, derrames, ansiedade, insõnia e depressão.
A Prefeitura conforme eu já disse, está ciente da situação, mas até hoje nada fez para que resolvesse a situação e ficamos todos preocupados porque assim cmo minha avó, no bairro Padre Gianni moram muitas pessoas carentes, pessoas com baixa instrução

JOÃO BISPO disse...

Boa noite!
Parabenizo o seu trabalho, pois realizo um parecido na região da Grande São Pedro e que tem uma ligação muito forte com o Padre Gianni. Ele foi nosso padre na década de 80, sendo a sua última paróquia antes de falece. Sou historiador formado em História. Deixo o meu email para contato. JOAOBISPOJUNIOR @GMAIL.com

JOÃO BISPO disse...

Boa noite!
Parabenizo o seu trabalho, pois realizo um parecido na região da Grande São Pedro e que tem uma ligação muito forte com o Padre Gianni. Ele foi nosso padre na década de 80, sendo a sua última paróquia antes de falece. Sou historiador formado em História. Deixo o meu email para contato. JOAOBISPOJUNIOR @GMAIL.com

Professor Janderson disse...

Que bom te ver por aqui João Bispo. Não conhecia essa página, você comentou em 2016 e eu estou conhecendo a página em 2022. Eu fui um dos primeiros moradores do bairro Padre Gianni. Estou encantado com o que Projeto nos agraciou. Muito obrigado por contar ao mundo essa história.

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