sábado, 26 de março de 2011

Os tesouros da Matriz (I): As esculturas do italiano Carlo Crepaz

IGREJA MATRIZ DE SÃO MARCOS. Edificada entre 1961-1965 por meio de doações feitas pelos moradores do município. Situa-se na Praça São Marcos no Centro da cidade de Nova Venécia e foi a primeira do município a possuir estilo moderno. Diz-se que sua arquitetura foi inspirada em uma igreja de Vicenza, na região do Vêneto, norte da Itália. Possui magníficos vitrais e imagens do Cristo Crucificado e do padroeiro São Marcos, em tamanho natural, esculpidas em madeira pelo escultor italiano Carlos Crepaz. A Matriz de São Marcos guarda ainda, em sua fachada, que representa as tábuas da Lei, dadas por Deus à Moisés, uma escultura em auto-relevo de bronze do Leão Alado de São Marcos, presente do Governo Italiano Facista de Mussolini dado a Colônia de Nova Veneza em Santa Catarina e, erroneamente, recebido em Nova Venécia no ano de 1925. Foto: Rogério Frigerio Piva, 19/02/2009.

Com esta postagem estamos iniciando uma série que pretende identificar as obras de arte sacra que compõem a Igreja Matriz de São Marcos, construída entre 1961-1965, no centro da cidade de Nova Venécia.

Por Rogério Frigerio Piva




Segundo o Pe. Carlos em seu livro “História da Paróquia de Nova Venécia (FURBETTA : 1982 , pp. 47-54)”, foi no “governo” do terceiro vigário, Pe. Fiovo Camaioni (1960-1966), que se deu a construção da nova igreja matriz de São Marcos, levada a efeito pelos missionários combonianos e os fiéis católicos entre 1961-1965. Hoje para quem vive ou visita Nova Venécia é impossível não notar o majestoso templo erguido à moda antiga, como a lembrar o traçado clássico das antigas cidades greco-romanas. Erguendo-se a oeste de uma esplanada, existente no cume de um morro, localizado no coração da cidade, identificado popularmente como “Morro da Matriz”, como a lembrar uma típica acrópole grega, encontra-se a igreja de São Marcos e seus tesouros artísticos.


Destes, por hora, vamos nos ocupar das esculturas em madeira presentes no presbitério representando São Marcos - o padroeiro, e o Cristo Crucificado.


A imponente escultura sacra de São Marcos, obra de Carlo Crepaz, presente desde 1963 na Igreja Matriz onde é padroeiro. Foto: Rogério Frigerio Piva, 25/03/2011.



Mais uma vez é o Pe. Carlos Furbetta quem nos informa: Enquanto a obra [da construção da Matriz] sobe, [o vigário, Pe. Camaioni] planeja o futuro. A 29 de julho [de 1962] organiza uma campanha extra na cidade para a nova grande imagem em madeira de São Marcos, encomendada ao escultor italiano, radicado em Vitória, Carlos Krepas; (1982, p. 53). E, mais adiante, na mesma página complementa: Para a festa de São Marcos 1963 chega a nova magnífica imagem e são colocados na grande nave os bancos novos... (FURBETTA: 1982, p. 53).


Detalhe da escultura de São Marcos. Foto: Rogério Frigerio Piva, 25/03/2011.



Com estas poucas linhas, o nosso saudoso Pe. Carlos Furbetta nos revela a autoria e a data da imagem que ainda hoje adorna o presbitério e impressiona a fiéis e visitantes quando se observa a riqueza de detalhes de uma escultura que parece que vai tomar vida e descer do altar a qualquer momento.


A riqueza de detalhes da escultura de São Marcos que parece que vai tomar vida e descer do altar a qualquer momento. Foto: Rogério Frigerio Piva, 25/03/2011.


Mas é somente quando aborda o “governo” do sétimo vigário, Pe. Pedro Baresi (1974-1977), que ele nos esclarece, detalhadamente, como estava organizado o altar-mor e nos faz nova revelação, sempre se baseando no livro de Tombo da Paróquia, que é sua fonte primária por excelência: Reforma do presbitério da matriz: De primeiro o presbitério se apresentava arquitetonicamente enfeitado por 5 arcos. A imagem de São Marcos estava colocada ao centro, num grande nicho situado no alto, acima do nível dos arcos. O sacrário estava numa arrumação meio provisória também no centro, abaixo do São Marcos e como que tapando, com a ajuda de cortinas, o arco central. (FURBETTA : 1982, p. 66).

Após esta descrição onde podemos identificar onde estava a escultura de São Marcos desde 1963, ele fala da primeira modificação que sofreu o presbitério da Matriz: Eliminamos os arcos e o nicho de São Marcos. No centro colocamos um grande crucifixo: o corpo de Cristo, dobro do natural, obra do escultor Carlos Krepas, é de madeira escura; a cruz que se apóia no chão e alcança em altura quase o forro, é de peroba clara. Tudo isso quer dizer que o Cristo é o centro da nossa fé e o centro da Igreja. (FURBETTA : 1982, P. 66).

Eis aí, a autoria da escultura do Cristo Crucificado existente, ainda hoje, no presbitério da matriz, o mesmo escultor que fez a imagem de São Marcos, Carlo Crepaz, também fez o Cristo Crucificado e, portanto, por estas notas, sabemos que a imagem do Cristo é, aproximadamente, mais de dez (10) anos mais nova que a de São Marcos.


O Cristo Crucificado passou a fazer parte do acervo sacro da Matriz de São Marcos entre 1974-1976. Mais uma vez a obra ficou a cargo do escultor Carlo Crepaz. Foto: Rogério Frigerio Piva, 25/03/2011.



Mas para onde foi a imagem de São Marcos após aquela reestruturação? Prossigamos o relato: Ao lado esquerdo da cruz, sobre grande consolo alto 1,70 m. sistematizamos o sacrário e, ao lado direito, sobre idêntico consolo, entronizamos a Bíblia. Esta arrumação quis indicar que Cristo nos deu duplo alimento: o de seu corpo, contido no sacrário, e o de sua palavra, contida na Bíblia. Ao canto direito do presbitério com a nave, sobre pedestal de um metro de altura colocamos a imagem do Padroeiro e, ao canto esquerdo, a imagem de Nossa Senhora. Esta arrumação quis significar que tanto Nossa Senhora como São Marcos são dois cristãos como nós, que, por terem seguido a Cristo mais perto, merecem a glória que desfrutam no céu e são para nós válidos protetores. (FURBETTA : 1982, p. 67).

Há alguns anos, ainda sob a administração dos missionários combonianos, o presbitério sofreu mais uma alteração que lhe deu a feição atual que pode ser vista na foto abaixo. Mesmo assim, as imagens: a do Cristo “centro da nossa fé e o centro da Igreja” que continua a ocupar o seu mesmo lugar, ladeado por São Marcos e a imagem de Nossa Senhora, já mencionada na década de 1970, da qual nos ocuparemos em outro momento.


Composição atual do presbitério da Igreja Matriz de São Marcos com destaque para o Cristo e o São Marcos do escultor Carlo Crepaz. Foto: Rogério Frigerio Piva, 25/03/2011.



São Marcos e o Cristo Crucificado, são duas imagens de madeira feitas pelo italiano Carlo Crepaz (ou “Krepas” como grafou o Pe. Carlos Furbetta) e foram feitas, respectivamente: a de São Marcos entre 1962-1963 e a do Cristo entre 1974-1976.

Mas e o escultor Carlo Crepaz, o que sabemos sobre ele?

Quem nos fala é a professora da Ufes, Almerinda S. Lopes, Coordenadora de Pesquisa/multimídia para o portal “Espaço Cultural – Burle Marx” ( http://www.sefaz.es.gov.br/painel/default.htm ) mantido pela SEFAZ – Secretaria de Estado da Fazenda do Espírito Santo:


Carlo Crepaz viveu em Vitória por 33 anos (1951-1984). Imagem disponivel em 26/03/2011 no site: http://www.es.gov.br/site/noticias/show.aspx?noticiaId=99661390

Carlo Crepaz - Nasceu em Ortisei [in Val Gardena] – Dolomiti [Südtirol], [extremo norte da] Itália, em 06 de abril de 1919 e faleceu na mesma cidade em 09 de setembro de 1992. Filho de Giacomo Crepaz e Adelinda Sotriffer. Escultor, pintor e professor. Em 1931, concluiu o curso de Arte na Escola de Belas Artes da cidade natal. Depois de se dedicar à escultura na Itália, onde expunha e recebia encomendas para obras públicas e privadas, decide transferir-se para o Brasil.

Em 1951 chega a Vitória, passando a professor de esculturas obras Pavonianas, no Santuário de Santo Antônio. Entre 1961 e 1981, leciona a disciplina de Modelagem e Escultura na antiga Escola de Belas Artes em Vitória, que ajudou a fundar e depois, no Centro de Artes da Universidade Federal do Espírito Santo. Naturaliza-se cidadão brasileiro.


O cenário urbano de Vitória conta com esculturas do artista, falecido em 1992. Imagem disponível em 26/03/2011 no site: http://www.es.gov.br/site/noticias/show.aspx?noticiaId=99661390

Em sua produção escultórica tem destaque a figura humana, especialmente os bustos de pessoas ilustres, além de figuras de temática sacra e vultos históricos. Seu estilo manteve-se sempre preso aos padrões clássicos, não revelando nenhum apreço pelas simplificações, geometrizações e estilizações modernistas. A pintura foi atividade paralela, mas secundária na carreira do artista, comparada à escultura. No entanto, deixou dois quadros de temática religiosa no Santuário de Santo Antônio: o santo pregando aos peixes e a mula ajoelhada diante do Santíssimo Sacramento (1952). Pelos serviços prestados, recebeu o título de cidadão vitoriense, em 1965. Em 1987, já aposentado, volta à Itália, falecendo na mesma cidade em que nasceu, em 1992.

Obras realizadas no Espírito Santo: "Índio Araribóia", 1959 (bronze); "Pietá"; anjos e batistério, Convento da Penha (Vila Velha); "Nossa Senhora da Vitória", (altar-mor da Catedral Metropolitana); Imagens de "D. Bosco", "Cristo Crucificado", "Nossa Senhora Auxiliadora" e busto do padre "Motti", na capela do Colégio Salesiano; busto de "Rui Barbosa", no Tribunal de Contas; busto do médico "Eurycledes de Jesus Zerbini", na Praça Ubaldo Ramalhete; "Monumento ao Imigrante", em Domingos Martins; "O Pescador", na Assembléia Legislativa; "Monumento ao Cel Antenor Guimarães", (1955); busto de Domingos Martins", no Palácio Anchieta; busto do Dr. Ubaldo Ramalhete Maia, na praça de mesmo nome; busto de Homero Massena, no Centro de Arte da UFES, entre outras. No Rio de Janeiro: "Anoitecer ", acervo do Museu Nacional de Belas Artes. São Paulo: "Grupo de Imigrantes", no Palácio do Café. Curitiba: "Cristo". Na Europa: "Cristo", 1936 (madeira), em Paris e Florença; "Papa Pio X", 1946 (no Vaticano), entre outras.


FONTES: ALVES JÚNIOR, José P. "As vozes dos bronzes", Revista do IHGES, n.º 20, 1959. FARIA, Willis de. Catálogo dos Monumentos Históricos e Culturais da Capital. Vitória, ARTGRAF, 1992. ASSIS, F. Eugênio de. "Efemérides Capixabas", recorte de jornal, s.p. e s.d., encontrado na caixa n.º 25 do acervo de Maria Stella de Novaes, no Arquivo Público Estadual."


(Texto disponível em 26/03/2011 no site: http://www.sefaz.es.gov.br/painel/escul10.htm).


Em 2006, uma exposição na Galeria Homero Massena e palestra, homenagearam Carlo Crepaz em Vitória, confira nos links abaixo:


05/09/2006 – Cultura – Vitória em Arte faz homenagem a Carlo Crepaz a partir desta terça (05):


http://www.es.gov.br/site/noticias/show.aspx?noticiaId=99661390


06/09/2006 – Cultura – Galeria Homero Massena mostra Crepaz até 30 de setembro:





Confira também portal italiano da terra natal de Crepaz:

2 comentários:

Driih' Possmoser disse...

Estou seguindo o blog:
Parabéns pelo conteúdo, amei tudo aqui..sobre as histórias. Escreve muito bem, continue assim:
Fui aluna da Isabel, uma excelente pessoa tanto como pessoa quanto como profissional.

Vocês três, são uma bela familia.. parabéns

IDALINA LOCATEL DE CHIPAMO disse...

Estou estarrecida com toda essa linda história,Quanto trabalho maravilhoso. Que bom ler tudo isto. Precisava ser mais conhecido pelas pessoa. Aquele fato da,escultura ser enviada para Nova Venécia ES e ser para Nova Veneza SC , é muito engraçado, porque estive lá em SC e visitei Nova Veneza, e lá me contaram que são CIDADES IRMÃS e que em todas as festas da cidade, os Prefeitos se visitam. Notável.Amei a história.

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