Santo Antônio de Pádua é considerado um dos santos mais populares da Igreja Católica. Nascido em Lisboa, Portugal, foi batizado com o nome de Fernando e ainda jovem entrou para a Ordem Franciscana onde passou a se chamar Antônio e, como morreu em Pádua, na Itália, seu nome seria consagrado como Antônio de Pádua.
Em Nova Venécia, a devoção pelo Santo Antônio data da própria colonização da região. No ano de 1888, o Império Brasileiro decretou a Abolição da Escravatura. E, temendo a falta de braços para lavoura, os fazendeiros de São Mateus, da região da Serra de Aymorés (atual Nova Venécia) no extremo oeste do município solicitaram a vinda de levas de imigrantes italianos para cá.
Dentre estes, contava-se o Major Antônio Rodrigues da Cunha que possuía a Fazenda da Serra dos Aymorés (atual Serra de Baixo). Nesta fazenda, no dia 17 de Janeiro de 1889, chegou um grupo de famílias, quase todas provenientes da Província de Verona, e que vieram no navio Ádria, cujos chefes eram: Pasquale MERLIN, Luigi PETTENE, Luigi GATTI, Carlo FLANGIN e Angelo PIOMBIN. E, ainda no ano de 1889, em março, vieram: Nicolò CADORIN (de Treviso), Francesco ROGIN (de Pádova) e Pietro FACCIN (de Vicenza) todos com suas respectivas famílias.
Conta-nos o Sr. Luiz Merlin, neto do Pasquale, que, naquele tempo, após uma semana de trabalho árduo na lavoura de café, os imigrantes se reuniam na sala de festas da casa-grande, sede da fazenda e, após a reza do terço que era “puxada” pelo Angelo Piombin, os italianos começavam o baile, cuja concertina era tocada pelo seu avô. E, enquanto isso, nos anos que se seguiram, outras levas de imigrantes chegaram nas fazendas.
Em 1892, já no período republicano, Governo do Estado, ordenou a criação do Núcleo Colonial Nova Venécia, vizinho às fazendas da Serra dos Aymorés, que se dividia em várias seções, dentre elas a do Córrego da Serra, para onde a maioria das famílias que trabalhavam na fazenda do Major Antônio Rodrigues da Cunha, se transferiu.
Capitello
Imagem centenária, esculpida em madeira pelo imigrante italiano Celeste Rizzo. É um Patrimônio
Cultural de valor incalculável para Nova Venécia. Foto: Rogério Frigerio Piva, 2000.
No início do século XX a família Piombin, retornou para Itália e o lote foi vendido a um baiano que havia se erradicado na região desde o final do século XIX, o Sr. Claudiano Rodrigues do Nascimento.
O filho do Claudiano, Sr. Zenóbio, nascido em 1914, nos conta que conheceu a capelinha e que suas irmãs costumavam enfeitá-la com “bandeirolas” na época da festa.
A devoção de um italiano foi fortalecida por um baiano. O próprio Claudiano se casou com uma italiana, a Sra. Rosa Caloni.
Segunda Capela
Foi o Claudiano que transferiu a capela para o local onde se encontra até hoje. Construindo a segunda capela, maior, feita, ainda, com esteios de madeira e paredes de estuque em meados da década de 1920.
Em 1925, chega da Itália o Leão de Bronze de São Marcos, conservado dentro de uma caixa de madeira revestida de veludo vermelho. Guardado provisoriamente na casa do Sr. Tito Cunha foi, logo depois, levado para a Capela de Santo Antônio onde ficou até que se construísse a Capela de Nosso Senhor do Bonfim, por volta de 1932, para onde depois foi levado.
Nesta época a festa de Santo Antônio já era tradicional, e, além desse evento anual, a capela acolhia devotos e devotas, que em seu interior rezavam o terço, ou mesmo a missa quando, de tempos em tempos, aparecia algum padre.
Por volta da década de 1930, muitas famílias migraram para a região ao norte do rio Cricaré, principalmente para as regiões do Refrigério, Córrego da Areia e da Ajuda.
Quando em 1938, iniciou-se construção da primeira igreja de São Marcos, os freqüentadores da capela de Santo Antônio contribuíram com mão-de-obra e recursos financeiros.
Capela Atual
No início da década de 1940, com a segunda capela atacada por cupins deu-se início à atual, no mesmo local desta, agora feita de alvenaria. A construção ficou a cargo do Sr. Zenóbio e de outros que ainda moravam no Córrego da Serra, dentre eles, o Sr. Ozório Tiburtino. Os tijolos foram fabricados por eles, ali mesmo, em local próximo da atual capela que, na época, recebeu uma cobertura de telhas de barro do tipo “cumbuca” (telha colonial).
Na década de 1950 construiu-se o anexo que ampliou a capela, a parte onde hoje fica o altar, este, inclusive, feito de madeira pelo irmão do Sr. Zenóbio, o Sr. Rui Rodrigues.
Das famílias que residiram no Córrego da Serra e que freqüentaram a capela durante todo esse tempo lembramos: PIOMBIN, FLANGIN (hoje Frangini), MERLIN, PETTENE, GATTI, CADORIN, ROGIN, FACCIN, CALONI (hoje Carloni), BOLDRIN, MIOTTO, BAROLO, BONOMETTI, VECHIATTO, VALENTI, ROZZATTI, CAMPAGNOLA, BELUZZO (hoje Belucio), DANIELLETO, FANTICELLI, MONARIN, MARANI, CUNHA, LEITE, VILLA NOVA, NUNES, BARCELLOS, AYRES FARIAS, MOTTA, TIBURTINO e RODRIGUES, dentre outras.
Na década de 1990, a capela se tornou comunidade, e hoje possui culto regular.
A capela de Santo Antônio do Córrego da Serra representa um dos poucos patrimônios históricos que resistem em Nova Venécia, situando-se hoje, praticamente em região limítrofe à área urbana, enquanto as duas outras capelas, outrora existentes na cidade de Nova Venécia, respectivamente: Capela de Nosso Senhor do Bonfim (1932) e Capela de São Marcos (1938), cujas devoções eram bem mais recentes que a de Santo Antônio já foram demolidas há muito tempo. E Santo Antônio ainda resiste, como símbolo de um povo e sua devoção cristã.
A terceira capela de Santo Antônio do Córrego da Serra. Construída por volta da década de 1940, apesar das intervenções que descaracterizaram o seu interior, é mais um Patrimônio Cultural edificado de Nova Venécia que resiste ao tempo. Foto: Rogério Frigerio Piva, 2000.
Sabemos que nosso relato, ainda contém lacunas, pois ainda nos faltam dados mais precisos, mas essa, é nossa pequena contribuição a uma das festas mais tradicionais de Nova Venécia.
Vitória (ES), 30 de Maio de 2002.